Por bferreira
Rio - O órgão encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, passados 24 anos, continua desamparado pelo poder público, que desconhece a importância dessa função preventiva. O Brasil conta com quase cinco mil conselhos tutelares — o que seria uma boa notícia, se todos estivessem funcionando em sua plenitude e atuando preventivamente na garantia dos direitos das pessoas em processo de desenvolvimento.
Os conselhos tutelares têm limitado seu papel de encaminhar soluções para situações de risco social e de fiscalizar abrigos por absoluta ausência de infraestrutura, negligência na divulgação do processo de seleção e eleição de conselheiros e ausência de um processo de conscientização da sociedade sobre a importância e função essencial destes conselhos. Acrescente-se a esse quadro a baixa representatividade comunitária e a falta de estágio de capacitação dos eleitos para decidir o destino de crianças e adolescentes.
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O Conselho Tutelar deve ser um órgão educativo e uma ferramenta para uso da sociedade no encaminhamento de soluções e denúncias de irregularidades. Deve servir como vértice dos problemas envolvendo crianças e adolescentes, suas relações familiares, o poder público, o acesso aos serviços garantidores do exercício dos direitos fundamentais regulamentados no Estatuto e o acesso à Justiça.
O conselho deve ser o agente garantidor de direitos. Não é o responsável pela execução de ações diretas de assistência social. Sua função é a de agir como um ouvidor para encaminhar as situações de risco social, sempre utilizando a rede pública como creches, escolas, postos de saúde, hospitais, centros de tratamento psicossociais, de acordo com as necessidades.
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A grande contradição ocorre quando os conselhos tutelares, identificando as necessidades de seus tutelados, encaminha-os para serviços inexistentes, inadequados ou insuficientes para atender à grande demanda. Como enfrentar esse dever de fazer sem mostrar a carência de políticas públicas que deixam crianças e adolescentes desamparadas? Compete à sociedade conhecer melhor essa importante função tutelar e exigir que o poder público municipal cumpra seu dever constitucional de garantir com absoluta prioridade os direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
Siro Darlan é desembargador do TJ e coordenador da Associação Juízes para a Democracia
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