Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Se você quiser viver no mundo da lua a melhor opção são os parques da Flórida. Projetados em cenários fantasiosos, eles te suspendem da realidade por horas, e todos ali têm que ser felizes e acabou. É tanto estímulo visual, olfativo, sensorial, que você fica tonto (o que significa que se não vai por bem, é na marra mesmo que você vai rodopiar).
Pois eu tinha brincado muito em tudo que é montanha russa, e como era 25 de dezembro de manhã e tudo estava fechado, resolvemos passear pela praça central de Orlando, com belo lago e jato d’água no meio. Em volta, há o caminho para a prática de esportes e muitos nichos de repouso. Tudo bem projetado para o lazer dos que moram e trabalham naquela máquina de fazer dinheiro, conhecida como o playground do mundo.
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Aí vimos um mendigo gordo, um senhor negro de idade, sentado num dos bancos, dormindo. Pensamos no frio que fazia, e como deve ser duro enfrentar tais temperaturas na noite daquele lugar. Muitas famílias davam a volta no parque conversando e rindo. Nisso, vimos um grande grupo de mendigos misturados com gente abandonada nas drogas, todos com cara de que precisavam de ajuda. Por entre crianças com patinetes novos, começamos a achar esquisito a pacífica convivência entre a dura realidade e o mundo perfeito proposto pelos parques, ambos existindo lado a lado. Ruía o sonho americano, bem na manhã de Natal.
Foi aí que ouvimos o coral cantando músicas lindas de fim de ano. Seguimos o som e nos deparamos com duas centenas de pobres criaturas fazendo fila para pegar o prato de sopão e um pedaço de pão e depois entrar em outra fila para apanhar uma roupa usada que fora dada em donativo para os menos favorecidos. Os voluntários eram uns 30, que tinham preparado aquele presente para a população de rua e com sua generosidade abriam mão de ficar em casa para nos lembrar do verdadeiro espírito daquele feriado. Nada estava programado, e aquilo estava mais ainda fora do contexto.
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Para quem foi passear buscando o perfeito mundo dos castelos, princesas, e animaizinhos lindos, aquela reunião de necessitados e seus cuidadores era um banho de vida real. Tudo junto e misturado. E a musiquinha linda do coral continuava a embalar a caridade, distante dos espaços que a sociedade separou para as visitas ao mundo sem mendigos, onde a tristeza é sempre a ponte para o final feliz. Mesmo sem varinha de condão, aqueles abnegados cidadãos estavam fazendo a sua parte e momentaneamente conseguiam melhorar o injusto mundo.