Não adianta louvar Jesus no Natal, jogar flores para Iemanjá no Ano Novo e virar as costas para o mundo no dia seguinte
Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - O Réveillon de Copacabana foi novamente um exemplo não apenas de festa e celebração, mas de tolerância, palavra que parecemos ter riscado do dicionário nos últimos dois anos e que conviria trazermos de volta em 2015.
É bonito ver crentes de todas as religiões convivendo em harmonia com os que preferem as crenças de matriz africana, maiores vítimas da intolerância religiosa neste país, e que fazem das oferendas à Iemanjá um capítulo à parte nas celebrações de Ano Novo. Mas não é apenas a intolerância religiosa que está sendo alimentada país afora, mas a intolerância social. Em todas as suas variadas formas, da homofobia ao racismo, da xenofobia ao machismo, ao sexismo, à intolerância política.
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Minha sugestão não é um convite a trocarmos a roupa da indignação pela da resignação. Nunca seria. Jamais. A indignação é a mola propulsora da mudança. E é completamente diferente de intolerância. A primeira precisa de inteligência. A segunda, apenas truculência e ignorância, que nunca levaram ninguém a lugar nenhum.
A luta por direitos não pode prescindir da premissa que direitos são para todos. Nem se transformar numa troca de privilégios. Isto deve ser combatido não apenas nas ruas, mas dentro de cada um. A pluralidade e a coletividade são nossos bens maiores, ainda que um pouco esquecidos nestes tempos em que sequer pedimos uns aos outros para tirar uma foto. A era Pau de Selfie.
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Se em 2015 nos preocuparmos mais com todos e menos com a gente, talvez fique melhor para todo mundo. Não é uma lição fácil. No placar da história, o individualismo tem vencido a coletividade há muito tempo, mas o jogo está ficando ruim para todo mundo.
Deveríamos aproveitar os últimos dias de celebração, seja do nascimento de Jesus Cristo, que até ateus comemoram, seja no Réveillon, na hora de jogar flores para Iemanjá, orixá que vai reger o ano que chega, e prima pela retidão e por acolher o novo, o desconhecido, para fazermos o mesmo. Ou como Che Guevara, que um dia nos falou que temos de endurecer, mas sem perder a ternura jamais. A receita está aí. Bora colocar em prática? Feliz 2015.