Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Algumas iniciativas no campo das políticas públicas acontecem de forma discreta, isoladas, sem sustentar-se em uma perspectiva de maior abrangência e impacto na realidade social. Não é isso que ocorre com o projeto de residência artística do Teatro da Laje na Arena Dicró. De fato, nessa experiência temos a reunião de um conjunto de elementos que a torna, por si, muito original.
A começar pelo financiamento estatal para um grupo de teatro de uma escola pública, localizada em favela carioca e com atores dela provenientes; a parceria entre o grupo de teatro, uma organização da sociedade civil, no caso, o Observatório de Favelas — cogestor da Arena Dicró — e a prefeitura carioca, proprietária do equipamento cultural e patrocinador da Residência; o valor do investimento na formação dos atores, em especial a bolsa — acima do valor pago a estudantes que cursam especialização — que permite que eles possam se dedicar intensamente ao processo de residência; por último, mas não menos importante, a clareza de todos os envolvidos na Residência que a experiência, caso dê certo, pode ser elemento central na produção de novas formas de financiamento para os grupos artísticos das periferias cariocas.
Publicidade
Durante muitos anos, o acesso ao financiamento das atividades artísticas no Brasil, e no Rio de Janeiro em particular, foi dominado pelos grupos com maior repertório conceitual, financeiro e capital social. O pressuposto da “excelência artística” como ponto de partida, definido por agentes que faziam parte da cena artística tradicional, gerava uma lógica elitista, na qual se considerava que os grupos das periferias produziam cultura, mas não arte. Assim, o seu teatro era considerado “amador”; sua literatura, “marginal”.
Assim, estamos conscientes que a Residência Artística do Teatro da Laje na Arena Dicró é uma experiência pioneira, mas não poderá se esgotar em si. Temos a responsabilidade de que ela seja muito bem-sucedida, que todos os objetivos sejam atingidos e, a partir disso, que possamos exigir do poder público a implementação massiva dessa estratégia de política cultural para outros territórios da cidade. Estamos – artistas, Estado e Sociedade Civil – trabalhando integrados para a cidade se encontrar na fantasia e na realidade.
Publicidade
Jailson de Souza e Silva é coordenador do Observatório de Favelas