Por felipe.martins, felipe.martins
Rio -  Acabou o Natal! “Cacum Cacau!”, reclamava meu bebê em sua língua, correndo para o pai enquanto eu tirava os enfeites do pinheirinho, já seco de calor, mesmo sendo regado diariamente. Eu passei mais de um mês avisando à criança para não encostar nas bolinhas, que era só para olhar, e de repente ela me vê frenética arrancando tudo. E aí, claro, foi reclamar com o Papa, digo, o pai: “Cacum Cacau?”, tipo “faz alguma coisa, ela está acabando com o Natal”.
Passou um dia, ele acordou, olhou para mim e, quando chegamos na sala, lá veio ele todo tristinho: “Cacum Cacau”. Foi aí que naturalmente a minha resposta saiu: “É isso, filho. Cacum Cacau, mas vem aí o Carnaval! É muito bom também. Você vai se vestir de quê, pirata?”, e fui para a cozinha, com ele atrás, para preparar a mamadeira. Assim é a rotina, com pílulas de felicidade eventuais para dar um “autus” no pique da trágica rotina do Rio de Janeiro. Somos enrolados feito nenéns, mas não somos inocentes. O Natal passou, mas os dias de folia estão bem próximos.
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Os assassinatos serão esquecidos, os ladrões estarão de folga pegando uma prainha, os ricos vão parar de brigar com os pobres — pois viajarão para suas ilhas e resorts distantes, cheios de simplicidade luxuosa —, e a vida vai seguir. Poderíamos até ir logo para 2016, para quando estão prometidas as entregas de diversas obras e a solução de problemas indissolúveis como a despoluição da Baía de Guanabara, para receber os atletas e velejadores olímpicos. Passou a Copa, foi o ano de poucos dias úteis o de 2014, mas agora o Carnaval chega mais cedo e, como no slogan, seus problemas acabaram. Feriados também serão uma constante neste ano de 2015.
Vamos parar de discutir se é pior viver no frio ou no calor e vamos todos bradar por uma temperatura amena o ano inteiro. Aliás, defendo o Minha Piscina, Minha Vida, para refrescar qualquer situação. Resolve boa parte dos problemas do mundo. Se cada um tivesse sua piscina, teriam menos discussões a respeito do destino da humanidade, dessas acaloradas de Facebook, em que ninguém vai a lugar algum, porque cada um só quer saber do seu ponto de vista. Tem gente que não perde um minuto se dedicando a alguma coisa que você sugere, uma leitura, uma indicação, porque não tem tempo a perder. Não percebe que poderia até economizar tempo ouvindo alguém. Mas é isso aí, cada um se proporcionando uma alienaçãozinha, para seguir em frente sem lamentar o que ficou para trás. Perdas e ganhos importam a quem? “Cacum Cacau”. Mas o Carnaval taí.


E-mail: karlaprado@odia.com.br
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