Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Antigamente, o chargista Carlos Estêvão apresentava na revista ‘O Cruzeiro’, a mais importante do país, o quadro ‘As aparências enganam’. Ele publicava um desenho que, sob certo ângulo, dava determinada impressão. Mas, por outro ângulo, mostrava situação inteiramente diferente.
Assim é no debate econômico hoje. Quem o pauta e define seus termos parte em vantagem. Vendo o que dizem o governo Dilma e a grande imprensa, me lembrei de Carlos Estêvão e de como as aparências enganam. Vejamos algumas expressões.
Publicidade
“Austeridade”. Ora, só perdulários podem ser contra a “austeridade”, termo que dá a impressão de seriedade e combate ao desperdício. Pois no Brasil de hoje, “austeridade” quer dizer arrocho aos trabalhadores.
“Responsabilidade fiscal”. De novo, só desatinados seriam contrários a uma política fiscal responsável, gastando-se mais do que se arrecada. Mas, na prática, “responsabilidade fiscal” significa a prioridade para os ganhos dos especuladores financeiros, mesmo que às custas de descompromisso com a área social.
Publicidade
“Busca do equilíbrio fiscal”. O ministro Joaquim Levy justificou o aumento de juros e as mudanças que prejudicam os trabalhadores afirmando que isso tinha por objetivo o “equilíbrio fiscal”. Então devem ser coisas positivas, pensaria um incauto. Não. Tudo o que estava em jogo ali prejudicava o cidadão comum. E “equilíbrio fiscal” pode ser buscado de múltiplas formas, inclusive afetando os lucros dos muito ricos. Mas a vaca tossiu de novo, e nas medidas anunciadas pelo governo de novo os trabalhadores foram prejudicados.
“Superávit primário”. Superávit soa como boa coisa. É o contrário de déficit. Imagine-se o ‘Jornal Nacional’ afirmando “o governo teve déficit em suas contas”. A repercussão seria ruim. Já se ele afirma que “o governo aumentou o superávit primário”, a impressão é positiva. É como se as contas melhorassem. Mal sabem os telespectadores que superávit primário é o dinheiro reservado para pagar a investidores em papéis do governo — em sua maioria, bancos. Esse dinheiro é retirado de Saúde, Educação, segurança, infraestrutura, etc. Assim, quando o governo aumenta o superávit primário é bom sinal para os especuladores. Mas mau sinal para os cidadãos comuns.
Publicidade
As aparências enganam mesmo...
?Cid Benjamin é jornalista
Publicidade