Por felipe.martins

Rio - Estamos no ano em que o período pré-carnavalesco já virou o próprio Carnaval. Ou seja, estamos no Carnaval há umas duas semanas. O Rio virou Bahia, o Carnaval de lá passa por um período de baixa, precisando se reinventar, enquanto que aqui os blocos ganham cada vez mais ares de circuito baiano, aderindo às camisetas para ajudar na infra e... atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. É a democracia momesca vivendo seu auge, com Preta Gil reunindo 350 mil na Presidente Vargas.

De bom, mesmo, gosto do gosto da infância, vendo que a cada ano as produções estão mais inspiradas nas ruas. As crianças me encantam com fantasias tradicionais, bem brasileiras, com fofuras de palhacinho com nariz vermelho, apito de índio, sultão, ciganas, melindrosas e odaliscas. Poderiam usá-las o ano inteiro, assim como levam para o dia a dia as princesas da Disney e os super-heróis. Seria lindo ver homenagens diárias ao índio brasileiro, ao circo, aos mágicos com coelhos saindo de suas cartolas. Rotina lúdica como toda criança deve ter. Fantasiar-se em grupo aumenta mais a diversão. Nunca esqueço da melindrosa que usei lá pelos meus 9 anos, com as vizinhas. Talvez por as franjas serem caras, pelo menos na minha imaginação, a nossa só levava franja na barra. E todas eram listradas. A minha era vermelha e branca e dela eu guardo até hoje o colar de pérolas vermelhas cintilantes. É bom botar cor na vida. Tão lindas as Fridinhas Kahlo dos bloquinhos para provar.

Antigamente, o improviso dava o tom e era possível bolar algo com o que se tinha no armário. Um recurso que, visivelmente, está de volta. E viva a criatividade do carioca e dos turistas que o Rio recebe. O tom crítico, a chacota, reinam a cada desfile, e é sobre isso, também, de que se trata o Carnaval. Do grupo que se vestiu de rolo de papel higiênico no fim à sátira a Eduardo Paes com o ‘prefeito ciclone’, é essa a festa que não se pode desprezar. E bom político que é, o prefeito não atravessou o samba e curtiu a fantasia na rede social.

Não dá para esquecer a sacanagem típica da estação. Deixemos de ser puritanos. Todo mundo gosta de ver beldades seminuas e a coragem repentina dos foliões nessa época do ano. É samba, suor e cerveja. A Sapucaí não vive mais sem suas rainhas de bateria, e ninguém passa sem a polêmica do ano: uma está gorda, outra magra demais, a terceira não tinha que desfilar, principalmente com tapa-ouvido. Viviane Araújo já virou um clássico. E, se tudo der certo, esse Carnaval vai ser igual ao que passou: vai chover, eu vou me emocionar e assistir a tudo de camarote. Boa festa!

E-mail: karlaprado@odia.com.br

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