Por bferreira

Rio - Há meio século e um dia, a 13 de fevereiro de 1965, nasceu a Banda de Ipanema, mãe de todas as bandas. Ela fez renascer o Carnaval de rua. Mas — anotem aí, historiadores —, por sua vez, é filha da Phylarmônica Em Boca Dura, de Ubá. Que vem a ser, portanto, avó, por exemplo, do Simpatia É Quase Amor (copyright Aldir Blanc), fundada pelos filhos dos fundadores da Banda de Ipanema, como Henrique Brandão, filho de Guguta e do jornalista Darwin Brandão. A ideia foi do boêmio e designer Ferdy Carneiro, carioca de Ubá, que criou o estandarte aurirrubro. E foi ele que adotou desde a primeira saída da Banda de Ipanema, na ditadura do Castelo Branco, duas frases que um maluco-beleza que circulava na Central do Brasil escreveu num papelão: “Yolesman Crisbeles” e “Tytche Rânin”.

O Dops cismou que era um código usado pelos subversivos, mas simplesmente não significava porra nenhuma, mas até hoje a Banda desfila com a faixa do “Yolesman Crisbeles”. Já o “Tytche Rânin” não pegou, só eu me lembro. Se o Dops desconfiava que a Banda era contra o regime militar, nós tínhamos certeza. Carlos Leonam, na sua coluna no JB, nos rotulou de “Esquerda Festiva”, no que tinha razão. Hugo Bidet desfilava montado num pangaré branco e vestido de general, cheio de medalhas. E Albino Pinheiro, fundador e líder da Banda de Ipanema, sempre convidava o grande sambista Blecaute, fantasiado de General da Banda (seu maior sucesso), para abrir o desfile. Leila Diniz foi a primeira madrinha. Dessa turma, só eu, inexplicavelmente, sobrevivi. No primeiro desfile da Banda, saí com uma rolha enfiada na boca, protestando contra a censura. Uma das primeiras frases de capa do ‘Pasquim’, lançado em 1969: “O ‘Pasquim’ é filho da Banda de Ipanema.”

O jornaleco, que sobreviveu durante 20 anos, era um ‘Charlie Hebdo’ tropical. Era feito por cartunistas e humoristas e também foi alvo de atentado em março de 1970. Felizmente os terroristas foram incompetentes, e a bomba, jogada de madrugada no jardim da sede do jornal, na Rua Clarice Índio do Brasil, deu chabu. Segundo o perito Penteado, apertaram demais a ligação do estopim com a espoleta, e o fogo não chegou até a carga de cinco quilos de dinamite. Se tivesse explodido, destruiria a casa, matando o caseiro e família, e atingiria os prédios vizinhos, uma mortandade. Conto isso porque não está no Google e para os que acham que, se não está no Google, nunca existiu. Resumo da ópera: cartunista sempre foi uma profissão de risco. Nos dois sentidos da palavra.

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