Rio - No ano passado 55 filmes brasileiros entraram em cartaz. Mas somente 20% tiveram alcance superior a 100 mil espectadores. Sete comédias ficaram entre as dez maiores bilheterias do nosso cinema. ‘Até que a Sorte nos Separe 2’, ‘O Candidato Honesto’ e ‘Os Homens são de Marte... e é para lá que eu vou’ lideraram o ranking. E a cena tem se repetido nos últimos anos. Por que a comédia faz tanto sucesso?
Por algum tempo cheguei a pensar que o público brasileiro dava preferência ao gênero. Mas não é verdade. Haja vista que a maior bilheteria de todos os tempos é ‘Tropa de Elite 2’, um filme de ação. O que está acontecendo com a comédia é que este é o segmento que mais tem treinamento fora do cinema. Atores, roteiristas e diretores estão em constante exercício do riso. Além disso, a comédia possui fácil integração com o público e tem orçamento bastante viável para quem produz. Voilà!
Comédias têm espaço em qualquer país, não é um fenômeno brasileiro. Só que muitos torcem o nariz para a comédia que o Brasil produz, o que é curioso. Afinal, cada lugar tem seu tipo de humor. O nosso é escrachado, o que vemos na tela é reflexo da gente. A comédia argentina tem mais ironia, a inglesa é mais ácida. O Brasil é barulhento, nossas piadas são brejeiras. Por que seria diferente na tela? Comédia é comédia. E atinge públicos diferentes, dependendo da história.
O humor, nosso traço mais proeminente — para o bem e para o mal — é buscado, conscientemente ou não, em todas as esferas da arte. O discurso de que a comédia tem sua importância e função, já que atrai o público para sua produção local, continua firme e sai de bocas variadas, inclusive daqueles que não são fãs do gênero. Mas é claro que ser plural é preciso. Formar público que se interesse por todas as histórias é criar massa crítica. O Brasil precisa é de mais espaço físico, esse é o X da questão. Que venham mais salas de cinema para que o maior número possível de histórias seja mostrado. Criticar um ou outro gênero é uma bobagem. Queremos todos.
Ana Paula Bonifácio é jornalista