Rio - Desde que o Sambódromo dividiu não só a história do Carnaval carioca, mas também em dois dias o desfile das principais escolas, a estatística oferece pouca margem de erro à afirmação de que é vantagem desfilar na segunda-feira: nos últimos 30 carnavais, entre 1985 e 2014, somente em seis a campeã saiu no domingo: 1985 (Mocidade), 1987 (Mangueira), 1994 (Imperatriz), 1996 (Mocidade), 2006 (Vila Isabel) e 2010 (Unidos da Tijuca).
O ano da inauguração do Sambódromo (1984) não entrou na contagem porque ali o regulamento foi único, com campeã em cada um dos dias (Portela no domingo e Mangueira na segunda) e ambas disputando, no sábado seguinte, o supercampeonato, vencido pela Mangueira. Outro ano atípico foi 1998: no único empate até hoje da Era Sambódromo, Mangueira e Beija-Flor desfilaram no mesmo dia — e ambas somam duas campeãs na relação das vitoriosas do segundo dia.
Até 1983, as escolas principais desfilavam somente no Domingo de Carnaval. Quando se ergueu este equipamento urbano que virou referência e modelo para outras cidades, as escolas foram divididas, de modo que o evento ganhasse mais visibilidade e gerasse mais interesse do público.
Não foi preciso esperar três décadas para constatar que a divisão transformou o domingo, outrora o mais importante, em cinzas para as escolas que almejam o campeonato. A explicação mais provável para este disparate remete à organização da comissão julgadora: como o júri é orientado a preencher o caderno oficial com as notas de todas as escolas após o último desfile, já ao amanhecer da terça, o impacto das agremiações que acabaram de desfilar pode puxar notas maiores e diminuir a das que passaram pela Sapucaí na noite anterior.
Alguém poderá argumentar que as escolas campeãs na segunda-feira desfilaram melhor e, portanto, mereceram ganhar. Seria tudo muito simples se, de 1985 até hoje, todas as primeiras colocadas o fossem de maneira inconteste, consequência da retumbância do desfile. Exceto em raros momentos, não há unanimidade acerca da melhor escola, tanto que várias são apontadas como favoritas. Estabelecer o equilíbrio entre os dois dias de desfile é fundamental para fazê-lo mais justo, competitivo e emocionante.
Bruno Filippo é jornalista e sociólogo