Por bferreira

Rio - Convencionou-se, na sociedade, demonizar todos os acusados de violência sexual em menores — de fato, um crime hediondo, asqueroso, que precisa ser denunciado e combatido. Contra estes, porém, dentro desse justicismo arcaico, não haveria outra pena a não ser a cadeia, de preferência permeada de brutais surras, obviamente sob a vista grossa das autoridades penitenciárias. Estabeleceram-se, nessa visão torta, rotinas pró-forma, quase automáticas, para se condenarem os suspeitos. E aí surgem distorções e até injustiças, como mostrou a série de reportagens ‘Crimes invisíveis’, que O DIA publicou esta semana.

A repórter Juliana Dal Piva levantou cinco casos que passaram pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) em que há inconsistências no processo. Todas resvalam em procedimentos falhos na análise psicológica dos supostos agredidos. Na falta de evidência física que encerre a questão, recorre-se às entrevistas e aos laudos para que a Justiça decida o que fazer com os acusados.

Condenados duas vezes — pelo Estado e pela sociedade —, os cidadãos retratados na série tentam reconstruir a vida. Há quem tenha de se esconder do mundo, e tem o pai que não consegue rever a filha, apesar de comprovadas falhas que no mínimo colocariam sob suspeita a decisão judicial.

Ainda que configurem exceção, os casos mostrados pelo DIA evidenciam a necessidade de revisão de alguns procedimentos. Não se pode ir no vácuo da condenação por osmose, sem questionar fatos ou ignorando a presunção de inocência. São casos sensíveis demais, e com consequências graves demais, para aplicar uma justiça enviesada.

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