Por felipe.martins

Rio - Lançando mão de filigranas burocráticas, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, descartou estender até o governo Fernando Henrique Cardoso o escopo da recém-instalada CPI da Petrobras. É mais um equívoco a comprometer a lisura da comissão, cujas lideranças foram escolhidas a despeito de possível conflito de interesse — já que terão de investigar os próprios doadores de campanha.

Nessas orquestrações, sobressai o descortês xadrez político: maquina-se para proteger ou prejudicar partidos. Pena, pois o objetivo de qualquer CPI seria investigar malfeitos, localizar os responsáveis e mensurar os danos, de modo a ressarcir a República — e, por extensão, os brasileiros.

Mas não: ao falar mais alto para compor a direção da CPI, o governo praticamente garantiu o teatrinho verborrágico que na prática nada inquire. Na outra ponta, porém, ao limitar o escrutínio a apenas um governo, a presidência da casa deixa claro o intuito de usar a comissão como ferramenta de pressão — ou chantagem, ou estelionato, tanto faz.

Com isso, ignora-se ou se esconde o fato mais grave: que a Petrobras foi alvo durante anos, quiçá por décadas, de gente inescrupulosa que montou gigantesco vazadouro de recursos, minando a saúde financeira de um outrora colosso nacional, e criando esquema sanguessuga que provavelmente se alastrou por outras estatais. É isso que a CPI deveria investigar, a despeito de nomes, ideologias, partidos e sobretudo interesses.

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