Por felipe.martins

Rio - A História nos conta que as mulheres sempre foram vítimas do desejo e do subjugo masculino em busca de prazer. Ainda se matam, mutilam-se e se violam mulheres como nunca. Há anos tenho contato com mulheres vítimas de abusos na infância e que cresceram em silêncio e dor. Mulheres sobreviventes que repetiram, na vida, pesadelos vividos com homens que deveriam protegê-las.

Secretárias humilhadas por chefes arrogantes. Esposas casadas com homens violentos. Mães agredidas e abandonadas por seus filhos. Mulheres sobreviventes não estão só na vida real, mas nos filmes, nos livros e nos contos. No livro ‘Contos de Fada — vivências e técnicas em arteterapia’, compilei contos sobre princesas abusadas na infância e na juventude: Rapunzel é trocada pelo pai por repolhos e passa a infância e a adolescência presa numa torre. Os pais de Maria a abandonam com João para morrer de fome. Bela Adormecida é vítima da inveja da madrinha, dorme 100 anos e, após ser abusada pelo príncipe, desperta mãe de dois filhos.

Mulheres sobreviventes também estão nos Mitos Gregos. Elas são humilhadas e abusadas por deuses e homens e punidas pelas deusas a quem se dedicaram. Medusa, por exemplo, era uma linda sacerdotisa do templo de Atena. Estuprada por Poseidon, é punida pela Deusa e condenada à solidão numa ilha onde os homens não a olhariam sem serem transformados em estátuas. Perdeu os lindos cabelos e os olhos encantadores.

Histórias antigas, histórias modernas. No livro ‘Deuses e Fadas — arteterapia e arquétipos no dia a dia’, outras heroínas e deusas: Cinderela, vítima de maus-tratos pela madrasta; Bela, entregue à Fera por seu pai; Deméter e Prosérpina, separadas pelo amor e pelo desejo incontroláveis de Hades.

Histórias e mulheres se encontraram em uma Roda de Arteterapia em 2012, onde mitos e heroínas ganharam vida pela arte: a face de suas Medusas através da argila, o fio de Ariadne em bordados e os grãos de Cinderela nas mandalas.

Essas mulheres sobreviventes merecem muito mais da vida e das lembranças doídas, merecem alguém que olhe por elas. Não estão sozinhas em seu silêncio e sua culpa; merecem paz, merecem amor.

Sonia Branco é arteterapeuta junguiana

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