Por bferreira

Rio - Tempo feio, tragédias da vida real expostas na internet e uma indignação permanente no ar. Já não falo mais da briga entre classes, com intolerantes de todos os lados e raro bom senso. O mundo sempre foi cruel assim, ou nós é que não tínhamos acesso? O que está acontecendo com a humanidade (?)? Crianças morrem por nada. Um menino não resiste a um espancamento por ser filho de pais gays.

Outro, com síndrome rara, que precisa de muito carinho, amor, cuidados... é torturado. Que mundo é esse, em que o humano se perdeu?

De que forma quem procura fazer o bem pode ajudar? Como manter-se otimista diante de tais tragédias irreversíveis, provocadas pela desumanidade de seres supostamente humanos? Como o homem pode atingir níveis tão horrendos de maldade? A desvalorização da vida é uma questão urgente a ser debatida, combatida, com coragem. O taxista me conta que sabe onde está o menino que assassinou um policial na frente da família. Vive no seu bairro e todos sabem, mas ele consegue escapar da polícia, quando o entregam. O menino é covarde, só se garante quando está armado. Ele, o taxista, tem muita raiva, pois acorda cedo e trabalha. Instalou câmeras na casa toda, não abre a porta para ninguém. “Senhora, eu lhe pergunto: qual o jeito para ele? Não desejo a morte de ninguém, mas sei que a senhora, se for justa, sabe a resposta”. Fico em silêncio. Sinto um aperto no peito. É claro que concluo o que ele quer dizer. E isso me leva a refletir em que ponto falhamos, mesmo os mais esclarecidos, ao admitir que a condução do pensamento chegue à solução imediata primária, de imaginar, que seja, a morte de quem faz o mal. Isso é jogar na mesma moeda, com as mesmas armas. E nunca vai resolver a questão. Viraremos, todos, desumanos? Nem pensar. Bloqueio já. Sempre me lembro do filme ‘Seven’ e do inevitável pecado da ira praticado em reação na história. É muito triste.

Em tempos intolerantes, temos que ser totalmente intolerantes com o mal, com o que é errado. Temos que entender que não existe justiça com as próprias mãos, que vivemos em sociedade. Não podemos admitir em nenhuma esfera a maldade, o revide, o inadmissível. Não podemos abrir uma brecha dependendo do lado em que estamos, vendo só o lado que nos convém. Tolerância zero para a pilantragem, a maldadezinha, a maledicência, o julgamento. Ser humano é difícil. Tem a natureza, o meio, a autodefesa. Como manter-se otimista e bom? Sem atração pela sordidez. Respirando fundo, amando, respeitando, espalhando isso, e não o contrário.

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