Por bferreira

Rio - O antipetismo, mesmo raivoso, enquanto posição política organizada democraticamente para se opor ao governo, é inteiramente válido. Quando elege um presidente da Câmara só por ser um esperto antipetista, cuja atuação não condiz com o conceito de ficha limpa, assim como quando usa as redes sociais para convocar manifestações para forjar um impeachment, passa a atentar contra as instituições democráticas.

Vai ficando cada vez mais claro que a sanha antipetista tenta resvalar para a fogueira do golpe. É claro que há articulação de fora, com o objetivo de derrubar a presidenta, que tomou decisões ousadas de autonomia, como a Lei do Pré-sal, a aliança com os Brics e a de investir em sistemas de comunicação autônomos em relação à espionagem de Washington. Medidas frontalmente contra os interesses do capital.

A Petrobras já foi gravemente ferida. Mas não basta, é preciso derrubar o governo para mudar a lei. E derrubar o governo para acabar com os Brics. A Índia já foi conversada. Obama esteve lá no mês passado. A Rússia se desgasta pela guerra na Ucrânia. A África do Sul não conta. É preciso, sim, tirar o Brasil.

A esse quadro grave soma-se, infelizmente, uma situação economicamente frágil, que facilita a sabotagem, coisa que a CIA sabe fazer muito bem. O rebaixamento da Petrobras, que corta o financiamento, a subida da inflação (mesmo com Joaquim Levy) e a guerra dos caminhoneiros (que derrubou Allende, no Chile, nos anos 70) podem ser os primeiros atos da sabotagem.

Aqui, ao contrário da Venezuela, onde é difícil para o governo resistir ao golpe, há forças confiáveis e robustas, como entidades da sociedade civil (OAB, ABI, CNBB, Clube de Engenharia), representações estudantis, sindicatos e empresários que defendem a soberania.

Não, no Brasil o golpe ainda não cresceu. E não crescerá o bastante para vencer. Mas é decisivo o trabalho político. De unir e articular todas as forças democráticas. Para desmoralizar o golpismo. O PT deve discutir o esforço fiscal , mas não criar embaraços ao governo. Fazer política é difícil. Requer maturidade, grandeza, coragem, discernimento. É o que se espera do PT, partido do governo, neste momento.

Roberto Saturnino Braga é ex-senador e pres. do Centro Celso Furtado

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