Por bferreira

Rio - O mundo está em crise, e a razão é a falta de amor ao próximo. O conflito às vezes é interpessoal, outras vezes alcança níveis societários. A falta de diálogo gera conflitos na família e chega a ambientes educacionais — onde a convivência deveria aproximar as pessoas. É preciso criar territórios de paz.

O Judiciário, já se sabe, não pode dar conta de restaurar a paz social diante dessa gama de conflitos. É preciso criar espaços comunitários onde a palavra, a memória e as versões oficiais de eventos individuais e coletivos sejam reconstruídas na perspectiva de reencontro com a verdade, a justiça e a reparação de danos.

O caminho da pacificação passa necessariamente pela construção de uma cultura para a paz e a reconciliação das pessoas com suas comunidades.

Não acredito na pacificação armada. As experiências são um fracasso. A pacificação se faz pelo processo de perdão e reconciliação. A sociedade precisa perdoar e ser perdoada para se reconciliar com seus cidadãos, aqueles que têm seus direitos fundamentais respeitados e os que os têm violados. Para tanto se faz necessário que as vítimas sejam acolhidas e levadas a perceber a dinâmica e a complexidade da ofensa, e as consequências na vida pessoal, familiar e profissional. As relações afetadas entre agressor e vítima podem ser restauradas quando há partilha da dor. Tanto sofre o ofensor quanto o ofendido.

Já na esfera político-cultural é preciso propiciar um espaço comunitário para reconstrução moral da ofensa para que haja uma compreensão da ruptura de vários laços de coesão social, patrocinando um trabalho para assunção da responsabilidade visando à reparação dos danos causados em termos éticos e de direito. Com essa finalidade foi criada a Escola do Perdão e da Reconciliação, inicialmente em Bogotá, Colômbia, e hoje já está sedimentado em diversos países, inclusive no Brasil, já tendo recebido menção honrosa da Unesco pelo impacto positivo da Educação para a Paz.

Ajudar o indivíduo a desenvolver habilidades necessárias para acolher o conflito, elaborar a raiva, rancor e o ódio, transformando-os e reabilitando-os de forma a recompor o equilíbrio psicoemocional, social e o sentido da vida, interrompe o ciclo da violência.

Siro Darlan é desembargador do TJ e Coordenador da Associação Juízes para a Democracia

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