Por bferreira

Rio - No Brasil, a cultura patrimonialista produziu formas clientelistas de representação política. Partidos acabaram reduzindo suas funções governativas de representação dos anseios e vontades populares para defender interesses imediatos de corporações ocupadas em retribuir apoio para garantir lucros e vantagens pela participação indireta na máquina do Estado. Enquanto isso, burocratas e tecnocratas passaram a exercer parte das funções que deveriam ser dos políticos.

Com efeito, o clientelismo não se tornou apenas uma característica do nosso sistema político, mas uma modalidade de controle de recursos, um capital a ser utilizado pelos partidos com o objetivo de se consolidarem institucionalmente e aumentar sua influência. O processo ocorre com tamanha frequência que a população entende ‘política’ não como a arte de bem governar ou buscar a realização das necessidades populares, mas como capacidade de fazer conchavos e negociatas buscando interesses próprios ou de amigos e parentes.

Ao assumir funções decisórias que deveriam ser executadas pelos partidos políticos, a burocracia reforça o corporativismo obrigando o presidente a buscar liderança sobre a máquina do Estado ao indicar tecnocratas de prestígio acadêmico ou mercadológico para cargos de confiança e também a utilizar os cargos como moeda de troca para ‘comprar’ aliados e garantir apoio no Congresso. Esse ‘presidencialismo de coalizão’ pode criar para o Executivo uma situação de dependência e defasagem de controle sobre o aparato administrativo e político, levando a ameaça de paralisia decisória por bloqueio congressual ou mais radicalmente à ingovernabilidade. Ameaça que parece hoje pairar sobre Dilma.

Cesar Sabino é sociólogo e professor da Unirio

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