Rio - O direito a fazer greve é sagrado a todos os trabalhadores, independentemente de suas reivindicações e queixas. Assim está sendo observado neste movimento dos garis, que hoje chega ao sexto dia. Em decorrência, verificam-se em diversos pontos do Rio monturos malcheirosos. Cenas incômodas que já tinham chocado no Carnaval do ano passado, quando a categoria conseguiu algumas vitórias — e a maior delas foi o apoio quase irrestrito do carioca.
Ainda há solidariedade à causa dos garis, mas alguns pontos notados podem tirar a legitimidade da greve — e consequentemente jogar a população contra os empregados da Comlurb. São eles as denúncias de piquete, a crise de representatividade do sindicato e uma suposta intransigência.
Quanto ao primeiro: O DIA mostrou ontem a imagem de um gari agredido por colegas que alegadamente tentaram impedi-lo de trabalhar. O caso ainda carece de investigação, mas a cena espanta, e hoje o jornal relata mais intimidações. Fazer piquete vai diametralmente de encontro à prerrogativa de greve — o direito que garante a um cruzar os braços é o mesmo que assegura a outro não aderir. E partir para a violência é tática criminosa.
O segundo ponto, o da crise de representatividade, não chega a configurar ilegalidade; é legítimo que se questionem lideranças quando decisões não agradam a todos. Mas dispersar o comando é arriscar a condução das negociações. Uma categoria desunida passa noção de fraqueza e perde voz.
Por fim, há a questão do diálogo. Hoje as partes se reúnem no TRT para tentar pôr fim à paralisação. É preciso entender que o país está longe de uma bonança que permita extravagâncias como os 40% pleiteados pelos garis, fora os adicionais exigidos. Os chefes do movimento se dispõem a conversar. Deles e das autoridades espera-se bom senso.