Por bferreira

Rio - As novas gerações têm recebido informações frequentes e veementes sobre o lado escuro do ‘período militar’, que sucedeu a revolução de 31 de março de 1964. Depois do governo Castelo Branco, surgiram os primeiros movimentos de reação armada ao regime, pela via de sequestros de diplomatas, assaltos a bancos, execuções de personalidades tidas como comprometidas com os excessos da repressão policial-militar. Dessa maneira, confinam-se aqueles anos a uma mera luta travada entre os que fizeram a opção pelas armas — guerrilheiros de um lado, policiais e militares encarregados da ordem do outro. Ao que parece, ambos os lados exageraram.

Pouco, no entanto, se fala nos avanços significativos no Brasil. Foram obras de grande porte para sustentar um processo de crescimento econômico que nos anos Médici passou de 10% ao ano. A lista é enorme, mas passa pelas grandes estradas, algumas duplicadas como a Via Dutra e a Rio-Juiz de Fora, a Rio-Santos (que deveria se chamar Mário Andreazza) e algumas estaduais. As usinas hidrelétricas, como Tucuruí e Itaipu, o moderno sistema de telecomunicações, a política habitacional e a de saneamento básico. A abertura do ensino universitário para a livre empresa, que hoje representa 80% das vagas. Na saúde, plantaram-se as origens do SUS. Permitiu-se a expansão dos planos e seguros de saúde, que hoje atendem a um quarto da população.

O time de colaboradores é dos mais sérios da República. Economistas respeitados, como Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Delfim Netto e Ernane Galveas; gestores, como Hélio Beltrão, Gonzaga Nascimento e Silva, Pratini de Morais, Mário Andreazza, Eliseu Resende e César Cals; juristas do gabarito de Leitão de Abreu, Ibrahim Abi-Ackel, Alfredo Buzaid e Milton Campos. E sem falar nos políticos incorporados à história como exemplares, como Petrônio Portela, Daniel Krieger, Gilberto Marinho, Magalhães Pinto, José Sarney, Francelino Pereira, Marco Maciel e Amaral Peixoto.

Infelizmente, como ocorre na história, as lutas internas, quando chegam às armas, geram atos condenáveis. Respeito os que discordam, mas tendo vivido o período e participado muito jovem daquele momento, não ficaria bem com minha consciência em silenciar diante da abordagem apenas de um aspecto daqueles anos e sob a visão de um dos lados nesta semana em que a data será lembrada.
Mais do que nunca, o sentido de união que inspirou o presidente João Figueiredo em sua generosa anistia deve estar presente entre os brasileiros.

Aristóteles Drummond é jornalista

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