Rio - Ouço duas frases rotineiramente no consultório. “Doutora, a velhice é uma droga, depois dos ‘enta’ tudo acontece” e “O que faço para envelhecer bem?”. Todos querem viver muito, mas ninguém quer envelhecer. Todos querem ter muitos anos, mas ninguém quer ter rugas, nem cabelos brancos. Todos querem vivenciar muitas histórias, mas ninguém quer vivenciar a idade que tem. Paradoxos.
Velhice não tem a ver com doença. Podemos e devemos envelhecer de forma saudável. A questão é que passamos a vida toda comendo mal, bebendo muito, fumando, dormindo pouco ou quase nada, estressadíssimos, ansiosos por um futuro que nem sabemos se virá e depressivos por um passado que não podemos modificar. E no fim queremos que a velhice chegue de forma leve, tranquila e saudável, como se nossa vida sempre tivesse sido assim e a velhice nos tirou essa condição. Foi? Claro que não.
São quatro os pilares de uma vida saudável: alimentação, atividade física, lazer e autoestima. Para ter qualidade de vida e envelhecer bem, é preciso, acima de tudo, um olhar mais humano. Precisamos parar de rotular tudo, medicar tudo. Para tudo existe um diagnóstico e um remédio. Hoje todos são depressivos, bipolares, têm pânico ou hiperatividade.
Aonde foram parar nossos mais humanos sentimentos de tristeza, alegria, amor, angústia e medo? Sim, eles existem. Nós não somos máquinas. Seja bem-vindo ao divino direito de ser humano, viver plenamente e envelhecer com dignidade.
Roberta França é geriatra