Rio - Até agora, a ética, como reflexo do comportamento moral do homem público, quase sempre chega bem tarde. Em nosso país, com frequência, a pergunta sobre licitude surge depois dos fatos. A crise moral por que passam os mundos político e empresarial comprova a urgência de se discutirem os limites da ação administrativa. A reflexão sobre o que é lícito deve preceder a realização do que pode ser factível. Em que pesem as demandas e pressões socioeconômicas, a ética não pode limitar-se a ser uma análise superficial. Em meio aos prognósticos que sempre contemplam o pior, a ética deveria contribuir como profilaxia das crises.
A ética que, na modernidade, foi considerada cada vez mais como coisa privada, volta a transformar-se, para o bem da sociedade e do Estado, como assunto público de primeira ordem. Uma atuação ética não é necessariamente antieconômica. O comportamento ético, no governo e no mundo empresarial, não é um simples complemento das concepções mercantilistas, das estratégias competitivas, mas há de se constituir num marco normal de toda a atuação humano-social. Precisamos de homens de determinadas convicções e atitudes. Infelizmente, a realidade hoje está ancorada em dinheiro e imediatismo.
Cada país tem seu ordenamento econômico e jurídico, mas este não funciona em nenhum lugar sem sentido ético de seus cidadãos, valor sobre o que se articula o Estado Democrático de Direito. O Brasil necessita, cada vez mais, de atitude que nos una e inspire confiança. Os rincões necessitam de objetivos, valores, ideais e concepções comuns. Essas diferenças regionais estarão unidas através do bem comum que somente ações corretas podem promover. Esse é o melhor caminho para se combater a leniência com a corrupção e a promiscuidade como regra de conduta. Os dois milhões de pessoas que foram às ruas, em várias cidades, dia 15, indicam a urgência de mudanças, do fortalecimento das instituições, da necessária fiscalização para que haja correção de rumos.
?Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor