Por bferreira

Rio - Está mais do que na hora de o Brasil adotar uma política pragmática de captação de recursos externos, de estrangeiros ou de brasileiros, para ajudar nesta luta para administrar a crise. Esta é grave e precisa sofrer uma reversão o mais cedo possível. Os países europeus, todos democráticos, vêm adotando medidas objetivas para captar divisas que ingressem de maneira sólida e não especulativa.

Portugal, por exemplo, lançou com sucesso três anistias fiscais, com pagamento quase que simbólico, que resultou em significativo retorno de dinheiro de posse de portugueses que estava fora do país e reduziu o endividamento de muitas empresas médias e pequenas. Criou ainda o Golden Visa, visto de residência a quem invista 500 mil euros em imóveis — o que tem ocorrido — ou em negócios que possam gerar ao menos dez empregos, desde que o dinheiro permaneça investido.

A Itália sobreviveu a grande crise com corajosa anistia, cobrando apenas 4% e aberta a todo e qualquer italiano que não estivesse sendo processado por atividades ligadas ao crime organizado ou a corrupção no setor público. Fez caixa considerável.

Nesse momento são 14 os países que oferecem vantagens a estrangeiros que queiram investir, em troca da garantia de residência. E os números são significativos, especialmente entre fortunas egípcias, russas, ucranianas e venezuelanas. Neste caso, mesmo do HSBC, os venezuelanos aparecem com o triplo dos recursos dos brasileiros, por motivação meramente política. O dinheiro, dizem, sente o cheiro do perigo e migra tão logo perceba riscos de confiscos, tributação abusiva ou instabilidade social ou política. Caracas já não teria famílias ricas residentes, estando um ou outro empresário ou profissional liberal passando alguns dias por mês à frente dos negócios.

O Brasil — que é continental, com qualidade de vida, oportunidades para investir no campo, na indústria ou setor de serviços — poderia se beneficiar de uma política que juntasse o visto de residente a uma isenção fiscal nos primeiros três anos. E, para os brasileiros, uma proposta nos moldes da italiana: misturando realismo e pragmatismo, sem burocracia.

Crise se enfrenta é assim, e nelas é que surgem oportunidades. E nem se fala nos que podem aportar além do capital, como filhos com formação profissional de qualidade. Entre 1974 e 1980, quando recebemos dezenas de milhares de famílias abastadas de Portugal que fugiam do comunismo dominante — inclusive os pais do presidente da União Europeia, Durão Barroso, formado em São Paulo —, estimou-se que o valor dos diplomados ultrapassava o bilhão de dólares. Isso há mais de 30 anos. Ou seja, um caso a ser pensado!

Aristóteles Drummond é jornalista

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