Rio - Por que queremos uma universidade no Alemão? Primeiro, porque os moradores são cidadãos brasileiros. Assim, querem o IFRJ porque acreditam na expansão dos ensinos Superior e Técnico públicos. As demais razões dizem respeito à situação específica do Complexo e sua relação com a cidade. Por um lado, há uma dívida histórica por parte dos governos com o bairro. É preciso ter claro que o Estado não esteve ausente no Alemão. Entretanto, essa presença foi marcada, sobretudo, pela precariedade, entendida como serviços de má qualidade ou incompletos, ações pontuais e descontinuidades entre as diversas agências estatais.
A construção de equipamento público do porte e da qualidade de um Instituto Federal poderá ser histórica ao marcar um novo momento para ação do Estado no Alemão, nas favelas e, quiçá, na cidade do Rio, considerando interesses que não só os mais estritamente econômicos ou político-partidários-eleitorais.
Outro motivo é por gerar novas possibilidades de representação do Alemão na cena pública carioca e nas relações e diálogos com o Estado. Quer dizer, as intervenções governamentais no Alemão foram, e ainda são, por anos marcadas pela atuação policial e na chave da segurança pública. Isso cria um círculo vicioso. Com o IFRJ, nós podemos interrompê-lo. Há de se respeitar a história do Alemão e reconhecer seus problemas com a violência, que foram e são reais (não se quer negar isso). Entretanto, há que se reconhecer que não se resolve o problema da segurança pública apenas com polícia.
Com uma unidade federal de ensino no bairro, será possível pensar o Alemão de outras maneiras, e o Alemão poderá ser ressignificado na cena pública carioca em suas potencialidades de sociabilidade econômicas, políticas e culturais.
É preciso ir além. E estamos construindo coletivamente no Alemão propostas estruturantes e universalizada para juventudes, Educação, Saneamento Ambiental e Habitação dignas de mudanças reais.
Alan Brum Pinheiro e Thiago Matiolli são coordenadores do Instituto Raízes em Movimento e Juntos pelo Complexo do Alemão, que agrega 17 grupos e instituições sociais e todas as associações de moradores