Por bferreira

Rio - Acabei de ler os 13 pontos apresentados por Mangabeira Unger, ministro para Assuntos Estratégicos, focando a Educação brasileira. Imediatamente pensei no ‘Relatório Faure’, publicado a pedido da Unesco em 1971, cuja coletânea foi intitulada ‘Aprender a ser’. Os quatro pontos para a Educação que surgiram no Brasil no final do século 20, com 30 anos de atraso, estavam refletidos no aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. Estamos lutando até hoje com essas questões: a escola brasileira não consegue pôr em prática estes quatro tópicos e continua entendendo que a Educação só funciona com repressão.

Não tendo surtido o efeito desejado, por iniciativa do então presidente da França, François Mitterrand, o filósofo Edgar Morin reuniu grupo de especialistas para propor em ‘Religação dos Saberes’ uma prática da teoria da complexidade, instigando as escolas para visão que superasse o cartesianismo a partir da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Nós já estamos na metade do segundo decênio do século 21, e nem o ‘Relatório Faure’, nem o ‘Religação dos Saberes’ conseguem invadir as gestões educacionais brasileiras. Nossos sistemas de ensino não foram atualizados, a metodologia está atrasada, os sistemas de avaliação, ultrapassados. Tudo continua com programas do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Prepara-se, no país, um aluno para ser desempregado ou para ganhar pouco, porque o objetivo será lidar com o pesado e barato. Enquanto isso, a Finlândia pretende preparar pessoas para lidar com o leve e caro, através de uma Educação que se transforma, para eliminar as disciplinas segmentadas e aderir aos temas transversais e aos fenômenos.

O que Mangabeira Unger propõe nos seus 13 pontos é um alerta necessário para uma reflexão urgente que redirecione a Educação brasileira. Nós temos pouco menos de 20 anos para esta transformação; caso contrário, nossas próximas gerações não serão capazes de produzir a ponto de sustentar a terceira idade que só tende a crescer.

E o que mais me espanta, embora fosse esperado, é que já se passaram duas semanas da publicação do Ministério para Assuntos Estratégicos, e os comentários, sobretudo na imprensa, são quase nulos.

Hamilton Werneck é pedagogo e escritor

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