Rio - Quando surgem oportunidades de captação de alunos neste imenso mercado brasileiro, cuja demanda é reprimida quando se trata do Ensino Superior, a tendência é recolher o maior número possível de candidatos, sobretudo quando o financiamento é garantido pelo Fies.
Esta porta larga que se abriu para receber alunos nos cursos superiores tem seus aspectos positivos porque pode melhorar a formação dos candidatos e facilitar a vida econômica de instituições particulares de ensino. De outro lado, os financiadores desejam receber, no futuro, a devolução dos empréstimos feitos, o que ocorrerá com a conclusão dos cursos e início do trabalho deste novo profissional.
Mas, sabemos bem, muitos alunos apresentam desempenho muito fraco ao fim do Ensino Médio, o que não lhes garante permanência no Ensino Superior, provocando muitas desistências. A não conclusão dos cursos e a evasão podem não conferir ao financiado condições de pagar o empréstimo. Isso é ruim para o sistema financeiro e para a instituição que o matriculou.
Para evitar tais dissabores, pelo menos uma redação precisaria ser feita pelo candidato, além da apresentação de seus pontos do Enem. Seria uma seleção mínima, no entanto mais segura por dizer ao avaliador das possibilidades de um candidato expressar-se em língua nacional e ter um raciocínio que demonstre facilitar a compreensão dos conteúdos a serem estudados.
Quando portas e comportas são abertas, os financiadores correm sérios riscos. As instituições podem ser menos lesadas quando usam uma estratégia pedagógico-administrativa de oferecer conteúdos mais fáceis até a metade do curso, garantindo o sustento da estrutura. Na segunda metade, as dificuldades aumentam para salvaguardar o nome da instituição, embora o número de alunos diminua.
Se, para a instituição que usa esta estratégia, seu livro-caixa fica preservado, o mesmo não acontece com os cofres do financiador. Este é o dilema do Fies, que exige de financiadores e instituições uma cumplicidade mínima para a preservação de um sistema que supera a casa do milhão de estudantes.
Uma redação, pelo menos, já ajudaria nesta parceria!
Hamilton Werneck é pedagogo e escritor