Por felipe.martins

Rio -  A novidade se chama Árvore Genealógica. Foi­se o tempo em que o sujeito regredia aos dias de faraó, eunucos bem dotados, ou, mais profundos, nasceu neandertal, o rei das cavernas num subúrbio da Leopoldina. Estudos mais recentes descobrem constrangimentos entre laços de família, “encontramos vestígios no qual o senhor foi sobrinho tataraneto do imperador Calígula, um tarado romano”.

Parágrafo repleto de ramos, meus avós paternos eram feirantes. A avó, portuguesa, vendia galinha viva, separando o sangue pro molho pardo. Meu pai também brincou nos tabuleiros. Menino, guardava um fascínio pelos pequenos pesos que ajudavam a equilibrar as medidas na marota balança enviesada sobre o canto da calçada. Tudo era aproximado. Qualquer desavença, acrescenta uma cebola que nuble um olhar suspeito. Pulando os galhos feito um macaco­prego perdido na Candido Mendes, a feira sempre foi minha vizinha. Cheguei a ter uma barraca por dois anos na Rua Garibaldi. A bem da verdade, nada ali era vendido.

Amigos sentavam em torno do tradicional móvel montado com ripas e encaixes até o arremate de lona listrada, salvaguarda das chuvas e verões cariocas, e o papo corria em proibidos índices etílicos.
Quem duvida pode recorrer ao YouTube e procurar pelo documentário ‘Dia de Feira’, do cineasta Hugo Moss. Um importante detalhe nesse comércio que tantos cismam em encerrar é o arredor. Sempre você vai encontrar um bar repleto de pinguços que madrugaram montando essa história. Fuso horário particular, a primeira cerveja é aberta às sete da manhã, já mordendo uma sardinha fechada, alta fritura, colesterol desconhecido. O organismo trata o nascente com indiferença. Meio­dia já é “boa noite”.

Na Tijuca do meu tempo, o botequim era o Bar da Maria. O festival de bebida fervia em tantos graus que a dona, Maria do Rosário, costumava parar o atendimento pra jogar um balde d'água no salão. Cuspidas eram sentidas pelo estalo na calçada. É a hora da purinha. No Bairro de Fátima, bem perto da feira de sábado, existe o Bar do Peixe, na André Cavalcanti. Mesa na rua, come­se uma sopa Leão Veloso de causar ciúmes no Rio Minho, o restaurante que criou essa receita. Lotado, atesta esse manual de sobrevivência nos paladares mais vagabundos.

Moro na Glória, onde, aos domingos, a festa de origens, cores e texturas é um acontecimento. Os pastéis abrem a porta na entrada do relógio. No outro extremo, os peixes, camarões e enormes cabeças de dourado te chamam pro pirão apimentado. Mas a surpresa maior mora na alameda em frente a Augusto Severo. Uma tenda de leve tecido, vento ondulando o formato, sombra de preservadas árvores e, que maravilha!, um samba de roda com músicos de primeira mudando o ritmo da xepa carioca. As meninas servem pratos à altura do repertório cantado no gogó. A percussão inibe o último grito de “um é três, quatro é dez”, e o dia corre na brisa que sobrevoa a Baía de Guanabara. Nesse domingo, tem. O Pagode do Time de Crioulo. Fica a minha dica.

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