Por felipe.martins

Rio - O Congresso avançou um pouco mais na reforma política semana passada: alterou-se na Câmara uma pá de regras — que deverá passar por novos escrutínios nos dois plenários —, dando impressão de que o país enfim está aperfeiçoando seus meandros até o poder. No entanto, uma análise cuidadosa levanta a suspeita de que pouco, na prática, de fato vá mudar.

Acabar com a reeleição e fixar a duração de todos os mandatos para cinco anos — e nessa conta os senadores perderam quase um terço de sua legislatura — sugere uma revolução. A recandidatura, porém, dará lugar a apoio a aliados e apadrinhados, e todo o peso da máquina de governo poderá ser sentido. Mudar a idade mínima para as disputas soa como iniciativas para interesse próprio.

Não se mexeu bem dois itens primordiais, contudo — pelo menos por enquanto: o voto obrigatório e o financiamento de campanha. Combinados, alimentam uma indústria velada, mas que move as eleições com vigor. Elege-se quem tem mais poder e dinheiro, e isso se consegue também com os nebulosos apoios que se travestem de doação. Desmontando essa engrenagem, dá-se ao voto um valor muito maior do que o sufrágio imposto, muitas vezes movido a promessas e benesses rasteiras. A alta abstenção e o volume de nulos e brancos registrados nos últimos pleitos já indicam essa predisposição.

Sem enfrentar essas questões com seriedade e pluralidade, a reforma política periga virar uma retocada cosmética. O Brasil não pode desperdiçar essa chance de desarmar essas usinas de malfeitos.

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