Por bferreira

Rio - Com qual idade devemos conversar com as crianças sobre sexo? Eis uma pergunta que inquieta pais e educadores. Especialistas recomendam que o assunto não precisa ser antecipado, mas trazido conforme às perguntas que são levantadas pelos meninos e meninas. E que se deve responder de acordo com a linguagem da criança, conforme o entendimento do universo dela. O fato é que, nesta história, muitos adultos são pegos de surpresa. Descobrem, de uma hora para outra, que a garotada conhece o assunto. Em alguns casos, são capazes, inclusive, de produzir um miniglossário. Adultos, chocados, perguntam: como isso é possível?

Sem querer culpá-la, a mídia é uma das fontes de informação. E não é de hoje. As colunas de consulta médica e sentimental dos jornais e revistas são um exemplo. No Brasil, muitas surgiram na década de 1960. Aos poucos, a temática foi sendo visivelmente ampliada no rádio e na televisão, a qualquer hora do dia ou da noite. Lembro que na década de 80, no horário matutino, programas voltados para donas de casa já falavam sobre o assunto. Na década de 90, debates com jovens e para os jovens — sobre sexo — também invadiram a grade. Isso sem falar, é lógico, nas novelas e minisséries. O cardápio da babá eletrônica, como a TV ficou conhecida, era e continua amplo.

Já nos dias de hoje, com o fácil acesso à internet e às tecnologias móveis, a garotada tem a possibilidade de se informar ainda mais e, de certa forma, no completo anonimato. Soma-se a isso outra fonte — tão poderosa quanto a mídia: a turma do pátio, da rua, do play e da escola — rede pela qual o assunto trafega sem constrangimento, timidez ou proibição.

No cenário de abusos infantis, pedofilia, gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis, informação vale ouro e faz diferença. Quanto mais cedo as crianças entenderem o assunto, riscos e problemas podem ser evitados. Por outro lado, não há como negar que toda esta temática, na visão socialmente construída sobre a infância — de ingenuidade e pureza — provoca um encurtamento deste período, o que nos deixa de certo modo reféns.

Não é possível mudar o mundo. Mas é certo que podemos estar do lado das crianças, participando desta ‘descoberta’. Precisamos também ser mediadores deste processo para que não aprendam ou entendam de forma errônea. É necessário dosar, equilibrar e sobretudo estar presente.

Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Midiaeducação

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