Por bferreira

Rio - Não resisto a uma boa história. Aliás, vivo disto, há muitos anos. De ouvir histórias de vida, de luta, de encontros e de desencontros. Gosto, especialmente, de histórias de quem faz a diferença na sua própria vida e, por tabela, na vida dos outros. Vou tratar hoje de histórias diferentes e muito parecidas. A história de Vania e Francisco começa numa longa viagem de ônibus, na volta das férias que foram passar junto com a família na Paraíba, onde nasceram. Ela, babá, ele caseiro. Começaram a namorar durante o percurso, há 21 anos.

Vania sempre gostou de trabalhar com as mãos, mas era feliz como babá. Incentivada por Francisco, deixou o emprego e passou a se dedicar a fazer crochê, bonecas, bordados, até que descobriu o patchwork, que a gente pode traduzir como trabalho manual com retalhos. Igualmente talentoso na sua função de caseiro, que exerce até hoje, Francisco não só apoiou como também usou sua criatividade para inventar uma máquina perfeita para dar acabamento melhor e mais rápido ao trabalho da mulher. E inventou uma máquina de “quiltar”, ou seja, de fazer o arremate nas mantas, colchas, bolsas e tapetes que Vania cria.

Francisco fez a geringonça a partir de uma velha máquina de costura que eles tinham em casa, combinada com sucata de bicicleta, de geladeira e de outras coisas igualmente improváveis. De onde ele tirou esta ideia? Da internet, de sites americanos, onde o “patchwork” é tão valorizado que tem até congresso anual, que reúne gente do mundo inteiro. Bendita hora em que Francisco pediu pra trocar de lugar naquele ônibus e se sentou ao lado de Vania. Juntos, já compraram a casa própria, têm filhos e netos e o atelier Vanchesco, onde produzem e ensinam a fazer patch e já tem suas peças espalhadas por várias partes do mundo.

Trabalhar com as mãos leva a caminhos nunca navegados. Foi assim, através do bordado e, depois, da moda, o primeiro encanto da arquiteta, por formação, e escritora, por vocação, Letícia Wierzchowski, com a literatura. Foi numa confecção que possuía em Porto Alegre, onde nasceu e vive até hoje, que escreveu, à mão, há 25 anos, seu primeiro romance, ‘Prata do Tempo’, o terceiro dos 13 romances que já publicou. Agora, lançando ‘Navegue a Lágrima’ e enquanto prepara novo livro infantil ( já fez outros 9), Leticia diz que escreve desde que descobriu que, através das palavras escritas, pode inventar o começo e o fim das muitas vidas e das dezenas de histórias que inventa. Assim, já viu sua obra ser traduzida para nove países e um dos seus livros, ‘A Casa das Sete Mulheres’, virou série de TV, exibida em mais de 30 países. É como diz esta gaúcha bonita: “Bordar e costurar é como escrever: a gente está pensando o tempo inteiro.”

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