Por felipe.martins

Rio - Em dado momento de uma palestra a docentes de escola privada, uma professora perguntou: “O que o senhor acha de uma mãe que envia um bilhete para a professora, dizendo que não quer mais que seu filho faça trabalho de grupo, pois os colegas nunca concordam com ele?” Após uns segundos de silêncio e imaginando que tal fato teria ocorrido ali, perguntei qual tinha sido a resposta dada à mãe.

De fato, ela tinha chamado a mãe e, ao lado da coordenadora pedagógica, explicou que as atividades em grupo eram parte da proposta da escola e que o aluno teria que desenvolver habilidades de interação em grupo, de forma a defender suas ideias e convencer os colegas. Mais tranquilo, pude reforçar o papel da escola como instituição educadora no contexto social e coletivo, o que muitas vezes se choca com as crenças dos pais. Reforcei também a importância de a escola deixar muito clara sua proposta político-pedagógica. É o que inclusive consta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. É imprescindível expor objetivos, valores, currículo e métodos de trabalho.

No caso dos colégios particulares, a assinatura de contrato de prestação de serviços oficializa a concordância dos pais com a proposta. A falta de clareza nessa relação pode ocasionar atitudes como a citada no bilhete da mãe.

A escola fornece serviço totalmente diferente do de um salão de beleza, por exemplo, que pode até advertir que um tom muito claro não vai cair bem, mas no fim das contas está ali para satisfazer a vontade da cliente, caso ela insista. O colégio precisa esclarecer a sua proposta e deixar claro quais ‘tinturas’ são usadas ali e quais não são usadas e que, em alguns aspectos não haverá concessões para o ‘cliente’.

Ao matricular os filhos, os pais precisam estar dispostos a serem ‘desagradados’ em nome dessa confiança. Por isso, precisam analisar a proposta pedagógica antes de tudo. As escolas, por sua vez, precisam entender que o sistema self-service não se aplica a elas.

Júlio Furtado é professor e escritor

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