Por adriano.araujo

Rio - Com enorme e merecido estardalhaço midiático, Francisco — o Papa que não tem papas na língua — acaba de lançar a encíclica ‘Laudato Si’ (‘Louvado Seja’), inteiramente voltada para o Meio Ambiente ou para o “cuidado da casa comum”, como ela mesmo proclama na introdução. Encíclicas são os documentos pontifícios mais importantes, destinados a propagar pontos específicos do entendimento da Igreja sobre temas diversos. Algumas se tornaram históricas exatamente pelo pioneirismo de suas abordagens. ‘Laudato Si’, por ser dedicada à inédita questão ambiental, está fadada a ser colocada entre as mais importantes da Santa Sé.

Nem que seja por curiosidade, mas principalmente para fazer justiça à polêmica e castigada figura do padre Cícero Romão Batista, é bom lembrar, neste momento de tantos e válidos louvores ao Papa Francisco pela escolha do tema, que no início do século passado, quando se preocupar com o Meio Ambiente ainda não estava em moda, o Padim Ciço já pregava no sertão nordestino sobre a necessidade de se preservar a Natureza.

Já naquele tempo o Padre Cícero esboçou conjunto de ‘mandamentos’, visando à proteção da Natureza. Mandamentos que ele que pregava com insistência e veemência pelo Cariri afora.

“Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau”, começava o regramento do patriarca de Juazeiro do Norte, que também mandava o sertanejo não tocar fogo no roçado, não caçar, não criar gado solto e a não plantar serra acima. Também ensinava que cada um deveria fazer uma cisterna “no oitão de casa para guardar a água da chuva” e a represar os riachos de cem em cem metros, “ainda que com pedra solta”. Padre Cícero ia mais além e incentivava seu povo a plantar “cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer”.

Até hoje o Vaticano reluta em determinar a reconciliação da Igreja com o Padre Cícero e a abertura do processo de sua beatificação. Mas, não faz muito tempo, o Greenpeace lhe conferiu o título de ‘padroeiro das florestas’. Um santo padroeiro, cuja mensagem continua tremendamente contemporânea.

Lauro de Sá Barretto advogado e escritor

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