Rio - Semana passada, os juros do crédito rotativo bateram 360% ao ano, maior taxa em quase 20 anos, segundo apurou o Banco Central. Os índices do cheque especial não ficaram atrás, alcançando 232% ao ano. Dados que ratificam o momento delicado por que passa a economia brasileira, mas que levantam uma questão: justificam-se números tão altos? A taxa de juros para as famílias, só para efeito de comparação, fechou maio a 57% — também num patamar alto —, e a Selic está em 13,75%.
Tem-se, aí, o spread bancário em seu esplendor. Explicam bancos e operadoras que tamanho rigor é necessário por se tratar de “dinheiro de curtíssimo prazo” e com “alto risco de inadimplência”. De fato, mais brasileiros deixaram de pagar contas em maio — o mercado de crédito registrou 4,7% de calote.
Ainda assim, não se entende o apetite dos números. Num momento em que o crédito está cada vez mais restrito, afetando todas as modalidades, cobrar 360% ao ano em dívidas é aplicar um garrote na já combalida economia, com 46% das famílias endividadas e inflação chegando a dois dígitos. Mas o lucro dos bancos privados não sabe o que é ressaca — ao contrário, subiu no primeiro trimestre.
Há um enorme trabalho de içar velas e manejar quilhas, lastros e contrapesos para enfrentar a tormenta sem adernar. Não há manobras mágicas, mas cavar buracos no casco, consequência de arrocho inclemente, pode ser tática camicase.