Por bferreira

Rio - Malala é a menina paquistanesa que ganhou o Nobel da Paz por defender com a vida o direito à Educação. Ferida no rosto, colocou seu coração a serviço da causa e não desistiu. Lá, foi o fundamentalismo dos talibãs o responsável por essa negação de direitos; aqui, são políticos que desviam verbas públicas que deveriam garantir uma Educação de qualidade.

Como se não bastasse essa tunga, ainda conseguem manobrar para aprovar no Congresso a redução da maioridade penal, que significa aumentar o grau da exclusão social daqueles aos quais é negado o direito à Educação. Em sua denúncia, mundialmente conhecida, Malala assim se expressou: “Em meu país, os políticos não têm escrúpulos. São ricos, e nós somos um país pobre — mas mesmo assim eles não param de roubar. Não entendo como podem conviver com suas consciências.”

Pouca diferença entre as palavras de Malala e a realidade das crianças brasileiras que têm seus direitos fundamentais negados por uma política que aposta na violência. O Papa Francisco nos anima e estimula a reagir e, assim como Malala, fazer valer nossos direitos. Não podemos nos dobrar aos privilégios da elite que detém o poder e mantém o povo do outro lado do fosso. A Revolução Francesa levou muitos governantes e juízes à guilhotina. Não precisamos chegar a tanto, mas a resistência é parte da dignidade da pessoa humana.

Não podemos contar com um instrumento de comunicação isento, já que grande parte da mídia está cooptada pelo poder dominante e a serviço da manutenção de seus privilégios. Como afirmou Francisco, “Hoje o clima midiático tem suas formas de envenenamento. As pessoas sabem, percebem, mas infelizmente se acostumam a respirar do rádio e da televisão um ar sujo que não faz bem. É preciso fazer circular um ar mais limpo. Para mim, os maiores pecados são aqueles que vão na estrada da mentira, e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. A desinformação é dizer as coisas pela metade, aquilo que é conveniente”.

Desse modo, o acesso à Educação que Malala deseja para todas as crianças e adolescentes do planeta passa por uma informação isenta e de qualidade, e não venal, golpista, mentirosa, omissa, deletéria, alarmista, covarde e sensacionalista, que somente reproduz o silêncio ou a voz de quem paga mais. E uma Educação plural, universal e integral para todos, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Siro Darlan é desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia

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