Por bferreira

Rio - O taxista me reconhece, diz que leu a coluna da semana passada. Ufanista, me chama atenção: “Na Tijuca também tem ostras! Bar Britânia!” Fingi estar surpreso. Sou amigo de um dos donos, João, desde que a galeria ao lado, na Desembargador Isidro, abrigava um teatro de ótimas acomodações. Morei anos no bairro. Outros seis de vida tive o CEP numerado no Méier. O subúrbio tem novidades gastronômicas de encolerizar muito chef parisiense.

Falecido no amanhecer de 2004, Paulinho, do bar homônimo, coalhava o sangue usado na galinha à cabidela criando grossos bifes proibidos por uma dessas estranhas leis do consumidor (em São Paulo é proibido servir ovo com a gema mole. É mole?). Ali perto, Benfica, entre lustres e ventiladores de teto, reina, absoluto e merecido, o bar Adônis, capitaneado pelo craque Antero. Chope não se discute, um dos melhores quando o Rio ainda era Guanabara. Bolinhos de gadus morhua são tratados como brincos reluzentes no faminto cordão dos boêmios cariocas. Outro dia, o cardápio exposto na parede oferecia bochecha de bacalhau. Frase manjada, “alguém já viu uma cabeça de bacalhau?”, me veio aos lábios. Pelo menos um beijo dou na cara dessa maravilha dos mares! Rondando a área, impossível atravessar a Capitão Felix e não entrar no Cadeg. Dentro, Rua 4, o Barsa e, entre as salivas provocadas, encontro um prato à base de carneiro. Só o pescoço.

Frases soltas, a cidade é exótica no paladar.

“Quem é do Meier não bobeier” sabe que por lá se come codorna e rã à milanesa. Antigos botequins da Zona Norte, chão esfoliado, carcomido de jurubebas e outras aguardentes dadas aos santos, mantêm primitivos jilós na água e sal, pé de galinha com as unhas aparadas, moelas no palito, torresmo de engordurar a maca de um ProntoCor. Passado revisitado, leituras modernas, rabadas e carnes-secas guisam com ares de filé mignon. Os pastéis, antes tímidos de queijo minas, vento e pingos de óleo, andam vestidos de damascos, gorgonzola e faisão. Cá pra nós, igualmente estranhos.

Não posso perder o itinerário, a linha do trem, mas, recentemente num casamento burguês, não reconheci qualquer canapé servido. Saudade do pernil com maionese e farofa.

Pra quem já comeu tanajura frita em Bangu, rabicó de galinha numa birosca da Penha, brandadas e outros tartares são tratadas como sobremesa no espumante do dia.

O taxista faz o troco com outra sugestão: “Tem carpaccio de avestruz na Palace, churrascaria de Copacabana...”. Deixa pra lá, ainda estou no subúrbio, cobra na garrafa de cachaça, mulato velho e caldo de galo no esquecido armazém do pendura.

E-mail: moaluz@ig.com.br

Você pode gostar