Por bferreira

Rio - O senador Cristovam Buarque (PDT), em artigo recente, sentencia que “o golpe de 1964 foi consequência de forças diretamente golpistas autoritárias, mas também da omissão e incompetência dos democratas”. “Se não somos golpistas por ação, estamos golpistas por omissão, devido a oportunismo ou incompetência, perdidos e em disputas sem sentimento nacional e de longo prazo.” Resume em dois parágrafos o que está acontecendo com o Brasil de hoje, sob a liderança voluntariosa, insensata e desmedida do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Cunha deveria voltar a estudar o Pacto de Moncloa. Contam os livros que a Espanha, atolada no desemprego e na hiperinflação — decorrente da explosão do preço do barril do petróleo, em 1973 —, reuniu em outubro de 1977 as lideranças partidárias. Capitaneadas por Felipe Gonzales, buscaram soluções de consenso para tirar o país da crise de governabilidade e da economia.

Aqui, o caso é semelhante, porém de ruptura — protagonizada por Eduardo, que não representa a maioria do PMDB. Ao contrário, joga com seu poder de manipulação para desestabilizar a presidenta Dilma sem olhar para os riscos de profunda crise política e econômica. Esquece ele que o partido é da base aliada e o vice-presidente, um colega de legenda.

O governador Pezão disse que “quem apoia para eleger apoia para governar”. A mensagem é clara, pois o PMDB historicamente é partido coadjuvante, de coalizão e cooptação por cargos em todas as esferas do poder.

Olhando os resultados das urnas em 2014, os nove estados nordestinos depositaram no segundo turno 70% dos votos em Dilma. A região é dominada pelas oligarquias peemedebistas. O partido tem 17 senadores e 1.025 prefeitos; a renda média do eleitorado é de R$ 1.428; os municípios têm população média de 30 mil habitantes, onde 32% são beneficiados pelo Bolsa Família. O PMDB é dono dos grotões.

Pezão, como municipalista convicto, tem a oportunidade de, na reunião de governadores marcada para depois de amanhã a fim de discutir o pacto de governabilidade, marcar sua posição e da maioria do PMDB. Deve sinalizar que o partido continuará na base, deixando claro que em 2018 deverá ter candidatura própria. Precisa destacar que as posições de Cunha não representam o pensamento da maioria dos líderes do PMDB. Quem sabe assim o presidente da Câmara não aprende o que são consenso e coalizão.

Wilson Diniz é economista e analista político

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