Por felipe.martins

Rio - Dilma Rousseff está acuada, mas não derrotada. Pressionada por Eduardo Cunha, vê desmoronar a base aliada na Câmara dos Deputados. No entanto, a presidenta inicia um novo estilo ao ter a iniciativa de dialogar com o Congresso. E, agora, ouviu os apelos de Lula e saiu da toca, viajando pelo Brasil. Se Renan

Calheiros mantiver distância de Eduardo Cunha, Dilma só tem a ganhar.
Enquanto a direita clama por impeachment e o PSDB pede novas eleições para presidente, Dilma agora sai da letargia em que se encontrava. Se a melhor defesa é o ataque, como ensinam os mestres da guerra (que têm em Eduardo Cunha um aplicado aluno), Dilma já se defende, mas ainda não ataca. Tenta apenas se justificar ao evocar a legitimidade de seu mandato.

Falta à presidenta promover uma mudança de rota na política econômica, de modo que o arrocho, chamado de “ajuste fiscal”, não penalize apenas os trabalhadores. E a elite ser obrigada a dar a sua contribuição. Os bilhões de dólares estocados por brasileiros no exterior devem ser recambiados ao país. Lula, de sua trincheira, parece Neymar obrigado a ficar no banco dos reservas. Gesticula, sugere jogadas, põe a mão na cabeça quando vê chute errado, chora quando o time toma gol. Suponho que deve estar arrependido de não ter dado ouvidos, ano passado, ao “Volta, Lula”. Mas agora só lhe resta reforçar o mandato de Dilma. O ex-líder sindical sabe lidar com situações conflitivas. Apesar do Mensalão, deixou o governo com 87% de aprovação pessoal. Gosta de desafios e é capaz de dar nó em pingo d’água.

Já Dilma nunca foi um ser político. De guerrilheira, acostumada a cumprir ordens, passou a tecnocrata, gerenciadora de instituições do poder público. Gosta de mandar, não de negociar. Porém, a conjuntura exige que ela mude de estilo e passe a dialogar mais e a confiar nos movimentos sociais, atendendo às suas demandas, como acelerar a reforma agrária, intensificar a preservação ambiental, defender os direitos de indígenas, quilombolas e atingidos por barragens.

Em meio à barafunda nacional, resta ao PT abandonar a letargia que o acomete. Não se reconhece no Planalto, pisa em arapucas no Congresso, faz de conta que a Lava Jato não é com ele, vacila na defesa do governo e se mantém calado quanto a propostas alternativas para o Brasil, tão enfatizadas em seus documentos originários.

Não é à toa que, agora, a direita brada como cães raivosos em torno da caravana atolada.


Frei Betto é autor de ‘Paraíso Perdido – viagens ao mundo socialista’ (Rocco)

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