Rio - Outro dia, o carioca que vos fala decidiu fazer turismo no Rio. Velho e preguiçoso, vou ficando pelo Leblon. Não vou à Lapa há anos. Filho ingrato, pois nasci lá. Só atravesso o túnel para ir ao aeroporto. Como no bordão do Bóris Casoy, isso é uma vergonha! Optei por almoçar em algum lugar na Lapa e pensei logo na Rua Teotônio Regadas. Como todos sabem, o amor é coisa inexplicável.
Mais inexplicável ainda é alguém se apaixonar por uma rua. É o meu caso; sempre amei a Teotônio Regadas, na Lapa, com pouco mais de cem metros. Antes que você se informe no GPS, dou a dica: fica colada à Sala Cecília Meireles, no Largo da Lapa.
Do outro lado, na entrada da rua, fica o Ernesto, com comida alemã, e no fim, no número 34, a Adega Flor de Coimbra, uma casa portuguesa com certeza. Todas as vezes que passo pela rua fico na dúvida: alemão ou português? E me lembro do poema do Drummond ‘Indecisão de Méier’:
“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam para não criar, todas as noites, o problema da opção e evitar a humilde perplexidade dos moradores? Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela, que tortura lançam no Méier!” (ele os via da janela do trem que ia da Central para Minas). A Adega continua exatamente como a conheci há 40 anos. Só que agora com ar-condicionado. Mas estão lá as mesmas fotos da Lapa antiga e o mural de Nilton Bravo e seu filho. Cony o chamou de “Michelangelo dos botequins”. ]
Havia dezenas de bares decorados com as paisagens bucólicas da dupla. Que eu saiba, de todos, só restou o mural da Adega. Como a pintura de ambos era idêntica,o pai, que era destro, começava pela direita e o filho, canhoto, pela esquerda. Encontravam-se no meio, e o trabalho estava pronto.
O aviso “Proibido Beijos Ousados” continua lá também. Já na parede externa do Ernesto um mural retrata figuras locais e díspares: entre elas, Manuel Bandeira, Villa-Lobos e Madame Satã. A propósito: quem foi Teotônio Regadas para dar seu nome a uma rua tão charmosa? Nem o Google sabe.