Por bferreira

Rio - Nesta hora em que eu escrevo, sou a menina filha de Odebrecht. Meus olhinhos tristes encaram a decisão de meu educador/pai de me castigar porque contei que quem quebrou a janela atirando o bibelô foi minha irmã, e não eu. Não entendo. Se vamos ser castigadas as duas, por que não posso contar quem cometeu este infortúnio? E quando eu faço o malfeito, por que ela não pode contar a meleca que fiz para que as pessoas venham conversar comigo? Educar não é explicar para a gente por que não devemos fazer algo, ou o contrário? Minha irmã adora atirar objetos sobre grandes transparências. Acho que eles deviam bater um papo sobre este tresloucado impulso.

Mas concluo que, para meu genitor, esconder, mentir, não revelar é um valor absoluto. Não conte, não diga a verdade, não aponte. Acho que devo concluir que é melhor esconder; como ele diz “proteger meus pares”, ainda que eu não concorde com o que eles estão fazendo. Terei que ser para sempre farinha do mesmo saco. Ainda que este saco atenda pelo nome de crimes contra o patrimônio público. Adulto é estranho, queria ser honesta!

Neste escrito já estou nos olhos das meninas Rosa Maria e Raquel, orgulhosas pela festa que prepararam: sentadas na plateia da Sala Cecília Meireles, na cerimônia de 50 anos do Museu da Imagem e do Som, entusiasmadas e certeiras nas decisões. Há outra menina no palco, de bota preta cano alto e vestido abaixo do joelho e longas madeixas: é Eva Doris, da Cultura Estadual, saída diretamente de Camelot, medieval. Ela exalta o passado, quando era na Praça 15, o presente que está na praça da Lapa, mas é o futuro que excita a todos nós. No primeiro semestre do ano que vem inaugura o supermuseu que vai redefinir Copacabana, que será uma ode de amor à musicalidade e visualidade da cidade. Tributos a Sérgio Cabral e Adriana Rattes, que botaram a pedra fundamental. Alvíssaras a Pezão, que continua a obra. Aplausos para os dois antigos funcionários que primeiro subiram ao palco para receber as homenagens, depois a dama Montenegro, Paulo José, Zuenir Ventura, etc e tal. Que beleza ver Artur Xexéo e Flávia Oliveira como mestres de cerimônia. No lugar certo, na hora certa, os apresentadores divinos.

Para terminar, agora assumo os olhos da menina Fitipaldi, que se aproximou de mim na inauguração da Praça Mauá. Espetáculo de esplanada pública que nos coloca em nível internacional de passeios magistrais. A senhora disse: “Estou emocionada porque eu era uma menina, e papai tinha uma banca de jornal bem ali naquela esquina. Passei a infância aqui, ele era o melhor pai do mundo, me deixou muito bem.” Preferi não perguntar se ele castigava a filha que falasse a verdade, porque óbvio era que não.

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