Rio - Conviver com irmãos na idade adulta nem sempre é fácil. As diferenças individuais, por vezes, produzem conflitos trágicos envolvendo ciúme, inveja e maldade. As preferências maternas e paternas, quando ocorrem, acirram crises terríveis. Os pais precisam dividir amor e afeto sem saber muito bem quem são os necessitados.
Ainda mais quando a filharada vai chegando aos poucos, em escadinha. A vida sexual ativa do casal fez rebentar filhos em sequência. Alguns são desejados, outros, nem tanto. Tem os filhos do tesão, mas também os da programação. Verdade é que, com muitos filhos, sempre existem os prejudicados, aqueles cuidados pelos mais velhos. Estes herdaram roupas, livros, brinquedos, coisa inevitável entre irmãos que, nem sempre, no futuro, traz boas recordações.
Os primeiros filhos, na maioria dos casos, são os mais agraciados. Primeiro neto ou neta, orgulho dos pais e dos avós, novidade que encanta a todos. Nascem cobertos de expectativas: uns querem menino, outros, menina, e, para muitos, tanto faz.
A expectativa do nascimento determina e garante uma existência, faz com que o cidadão leve adiante seus ideais e ambições com aquela famosa capacidade de perseverança na vida. Ele ou ela sabe seu valor, o recebeu no nascimento, diferente daquele que foi mais um irmão entre irmãos, o recheio do sanduíche. Claro que toda regra tem exceção: ninguém está condenado por causa disso.
Existem saídas fantásticas na vida. De onde menos se espera pode vir algo inesperado. Se você não foi ‘o’ filho desejado, mas, no entanto, se tornou alguém bem-sucedido, sabe bem disso. Com os irmãos crescendo, a vida vai seguindo, e as características individuais se revelam, deixando a infância para trás. Lá estão todos projetados no mundo adulto! Uns se destacam mais profissionalmente, outros ficam ricos, tem aqueles que, como se diz, “não deram para nada”, e a diversidade se instala.
São relações carregadas de intimidade e, quando ocorrem conflitos, por vezes violentos, há rupturas. Vale lembrar que só o ‘sangue’ não garante a estabilidade do relacionamento. São ódios, raivas, ciúmes e bom entrosamento do passado os ingredientes que mais definem a evolução — ou não — dessas relações.
?Fernando Scarpa é psicanalista