Rio - No Brasil, um quarto da população tem algum tipo de deficiência, segundo o IBGE. Mas o Rio, apesar do alto potencial turístico — incluindo o corporativo — e dos megaeventos —, não está preparado para acolher pessoas com deficiência para mobilidade. Há um projeto que visa a enquadrar o Rio no conceito de Cidade Inteligente, muito embora estejamos distantes de tal inteligência. Muitas contradições.
A pouco mais de um ano de sediarmos a Paralimpíada, temos o desafio de tornar a cidade acessível para os mais de quatro mil paratletas de mais de 170 países. Desatino impossível de acontecer, pois, notoriamente, a prioridade são as construções de grandes ginásios que, após os Jogos, provavelmente ficarão subutilizados.
Em nenhum momento se priorizou algo relevante para o público com deficiência. Não há quartos adaptados em hotéis três estrelas, que são os mais em conta. Estamos desprovidos de meios para mobilidade urbana, seja na calçada, numa travessia de rua, no ingresso ao transporte coletivo, acessibilidade aos pontos turísticos e praias. Até a abertura dos Jogos Paralímpicos está ameaçada, tendo em vista as dificuldades de acesso ao Maracanã — onde se dará a cerimônia.
No caso da deficiência visual e auditiva, são quase nulas as adaptações tanto para a mobilidade quanto nas instalações. Mesmo estando em vigor no país a lei de inclusão da pessoa com deficiência, a qual prevê 10% da capacidade hoteleira para esse público, essa não é a realidade da cidade. O mesmo acontece com os restaurantes, onde poucos contam com algum tipo de adaptação dessa ordem. É uma cidade partida.
Vale ressaltar que o município não se limita à bela orla da Zona Sul. Os cariocas com dificuldades de locomoção também estão no subúrbio e na Baixada, onde a mobilidade urbana para pessoas com deficiência é inexistente. Os eventos passam, mas o sofrimento desse público permanecerá.
Há mais de 30 anos, Milton Nascimento, em ‘Notícias do Brasil’, canta que “...ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”. Letra antiga, mas que ainda retrata nossas desigualdades.
?João Tancredo é advogado especialista em Responsabilidade Civil