Por felipe.martins

Rio - ‘O precariado: a nova classe perigosa’, de Guy Standing, da Universidade de Londres, deveria estar na cabeceira da presidenta Dilma Rousseff. A obra mostra os efeitos sociais do desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos na Europa. O professor cita que 97% dos empregos criados no Reino Unido eram contratos de serviços temporários. Aqui no Brasil os números não são tão distantes numa economia em que todas as atividades o desemprego se alastra. 

Standing alerta que, em fase de recessão, os jovens desiludidos são obrigados a voltar a morar com pais e tendem a optar por líderes populistas de direita, como ocorre na França, na Holanda, na Finlândia e na Suécia. Nas manifestações de junho de 2013, no Brasil, casos isolados clamavam pelo radicalismo e pela volta dos militares.

A Organização Internacional do Trabalho acaba de publicar que o Brasil lidera ranking do desemprego entre jovens na faixa de 15 a 24 anos em 43 países pesquisados, sem considerar os que não procuram vaga no mercado formal. Completando o quadro recessivo, 13 mil engenheiros foram demitidos desde janeiro de 2014. O Pronatec, programa federal de capacitação em Ensino Técnico, previa 12 milhões de pessoas capacitadas, mas a estimativa é a metade.

Mas isso nem sequer está em debate no Planalto. Na pauta, saem a crise da recessão da economia e a queda de todos os indicadores do PIB e do emprego e entram os acordos espúrios de sobrevivência da presidenta, para ficar no cargo até 2018, a despeito da crise generalizada: alta do dólar, previsão de queda do PIB de 3%, taxa de inflação que pode chegar a 10%, prejuízo de milhões de dólares do Banco Central em operações cambiais.

Dilma, refém do Congresso e sofrendo derrotas consecutivas, inclusive na aprovação de suas contas, se fragiliza no exercício do poder, pois fez ‘ pacto com o diabo’ ao conceder sete ministérios ao PMDB sem aprovar o ajuste fiscal necessário para mudar os rumos da economia.

O noticiário não coloca mais o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em primeira página para debater o ajuste fiscal. Cunha lidera o debate na imprensa. Como disse Guy Standing, diante da crise os governos fizeram ‘pacto com o diabo’.

Wilson Diniz é economista e analista político


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