Por bferreira
Rio - A dor de uns não é maior nem menor que a dor de outros. Nunca será. Mas quando a dor dói no coração da gente, na vida da gente ou pedaço de terra da gente sempre nos parece maior. Ou será que a dor é maior quando envolve o pertencimento? Ou será que é quando toca na nossa origem? Ou será que dói mais quando é mais perto de nós, com os nossos queridos?
Acho que não dá para comparar. Dor é que nem fome. Dói e ponto. Não dá para dizer o tamanho. Não há o que discutir. A dor da barragem rompida e a dor do terror. Li muitas idiotices no facebook, muitas comparações entre a dor da França e a dor de Minas Gerais. Tantas bobagens, que chegam a causar mais que desprezo, muita revolta também.
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E quem será que não está revoltado? Com as mortes em Paris e com as mortes em Mariana? O que causa mais horror? A dor do terror? Ou a dor da falta de compromisso com o outro? Ou não será, no âmago, a mesma coisa? Ou será que a dor perto da gente dói menos se for ignorada e a gente se voltar pra dor mais distante? Não tem gente que faz isto na sua própria vida? Prefere pensar e palpitar na vida do outro e, com isto, esquecer problemas? Ou fugir da sua própria vida?
Não consigo deixar de ler com horror as notícias dos atentados de Paris. Me arrepiam e me enojam. E também não consigo me esquecer, nem por um momento, de Mariana, onde, além da barragem rompida, duas outras barragens ameaçam mais gente, mais rios e mais ainda a natureza já escalpelada das Minas Gerais. E me arrepiam e me revoltam. E me indignei com a água,supostamente contaminada, enviada para Governador Valadares. Ninguém merece nem carece. Agora, passados uns dias, recebo por zapzap, o laudo oficial que nega que a água enviada para Governador Valadares estivesse contaminada com querosene ou qualquer outro tipo de combustível. É de um laboratório francês muito respeitado por suas análises técnicas, o Merieux/NutriSciences.
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E fico me perguntando: para que alguém, em nota oficial, espalha para a imprensa uma notícia destas? Para as pessoas sofrerem ainda mais? Com que objetivo? Não é também um ato de terrorismo? Ou, na vida cristã, um ato de falso testemunho? Ou perversidade mesmo? Ou jogo político? Mas numa hora destas? Quanta maldade, quanta irresponsabilidade com um povo que sofre sua maior dor vendo vidas perdidas e seu rio destruído.
Talvez por tudo isto as palavras proféticas do poeta maior, Drummond, em 1984, data emblemática porque também lembra o escritor Huxley e seu “Admirável Mundo Novo”, estão sendo tantas vezes replicadas. Ele diz assim em Lira Itabirana: “O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse mais leve a carga. Entre estatais e multinacionais, Quantos ais! A dívida interna. A dívida externa. A dívida eterna. Quantas toneladas exportamos de ferro? Quantas lágrimas disfarçamos sem berro?” É poeta, além da dor, dá uma tristeza danada. E uma raiva danada.
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