Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Nau sem rumo, o governo Dilma, refém de sucessivos escândalos de corrupção, depara com a corrosão de sua ‘joia da coroa’: o social. Segundo dados do governo federal (Pnad 2014, o principal levantamento socioeconômico do Brasil), o país conta, hoje, com menos miseráveis e menos desigualdades do que há dez anos, porém com mais desemprego e informalidade no mercado de trabalho.
O analfabetismo refluiu um pouco, mas ainda temos 13,7 milhões de brasileiros, com mais de 15 anos, que não sabem ler. O desemprego atinge sobretudo os jovens entre 15 e 24 anos. Voltou a crescer o trabalho infantojuvenil, que vinha em queda contínua nos últimos oito anos. Hoje, são 3,3 milhões de trabalhadores com idades entre 5 e 17 anos. Um crime de lesa-pátria e lesa-humanidade!
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Com o aumento do desemprego e da inflação, as famílias de baixa renda se veem obrigadas a apelar para um recurso trágico: mandar suas crianças para o mercado de trabalho. Na faixa etária entre 5 e 13 anos, na qual todo trabalho é ilegal, o aumento foi de 9,5% — 554 mil crianças! Resultado: a taxa de escolarização caiu para 80,3%. Entre crianças e jovens que não trabalham, a escolarização abrange 95,6%.
Isa Oliveira, secretária-executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, não é otimista quanto ao futuro. Segundo ela, até 2020 o Brasil terá pelo menos dois milhões de crianças trabalhando, a maioria na zona rural. E muitas em condições de semiescravidão, como na colheita de cana, apesar de o governo ter reduzido o trabalho infantil em carvoarias e indústrias.
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Entre os que têm de 18 a 24 anos, apenas 30% continuam na escola. Os demais tiveram que abandoná-la por falta de recursos ou pela dificuldade de conciliar estudo e trabalho. Efeito vergonhoso para um país no qual a frequência escolar deveria ser obrigatória, e todo o sistema de ensino, gratuito.
Houve melhoras nos últimos dez anos. De 2004 a 2014, a renda dos 10% mais pobres triplicou quando comparada ao aumento da renda dos 10% mais ricos. No mesmo período, a extrema pobreza entre crianças e jovens até 14 anos caiu de 7,6% para 2,8%. Se em 2016 forem cortados R$ 10 bilhões do Bolsa Família, 23 milhões de pessoas ficarão fora do programa — metade delas crianças!
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Será que tais avanços resistirão à recessão que o país enfrenta? A inflação, prestes a superar a barreira dos 10% ao ano, deve atingir sobretudo os mais pobres, cuja renda é gasta, na maior parte, com alimentação.