Antes de falar bobagem, olhe para o lado: alguém perto vai trabalhar com dignidade no Carnaval
Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Assisto aos desfiles das escolas de samba por paixão e ofício. Estudo feito doido essa bagaça, escrevi alguns livros sobre a história das agremiações, sento a bunda na cadeira para ler tudo que sai, ganho de vez em quando uns merréis falando ou escrevendo sobre isso, tenho derrubado o galo do poleiro para alinhavar um novo trabalho sobre religiosidade e escolas de samba e vou ao Sambódromo não apenas porque gosto, mas porque preciso para as coisas que estudo.
Aí sou obrigado a aturar siricoticos de uma turma de “homens de bem” (fujo deles feito cachorro vira-latas dando migué para driblar a carrocinha) batendo na tecla de que Carnaval é festa de vagabundos, em que as pessoas tiram uns dias do ano para não trabalhar e só se divertir. Quando escuto uma barbaridade dessas, penso nos vendedores ambulantes, nos operadores de carro de som, nos milhares de funcionários dos barracões de escolas de samba, nos músicos, nas cantoras e cantores, nos garis, nos motoristas de ônibus e condutores de trens e metrô, nas garçonetes e garçons que aturam os bebuns da folia, nos entregadores de jornal, nos jornalistas que ralam nas redações, nas funcionárias e funcionários de hotéis, nas costureiras que fazem as fantasias e em muita gente que rala em outras dezenas de atividades que envolvem os dias de folia.
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Antes de falar bobagem, homem de bem, olhe para o lado: alguém perto de você vai trabalhar com dignidade no Carnaval. A festa em tempos de crise é mais necessária que nunca. A gente não brinca e festeja porque a vida é mole; a turma faz isso porque a vida é dura. Sem o repouso nas alegrias, ninguém segura o rojão.
E já que a onda é essa, fecho a tampa do meu peixe de trabalhador da folia. Além de textos e entrevistas agendados para rádios, jornais e canais de televisão, comentarei os quatro dias de desfile na Marquês de Sapucaí pela fundamental e guerreira Rádio Arquibancada, no site www.radioarquibancada.com.br. Para a turma dos celulares e tablets, é só ouvir nos aplicativos Tune In ou RadiosNet. Ao meu lado, uma turma boa que trabalha pela festa e se diverte com isso: os craques Anderson Baltar, Chico Frota, Fred Soares, Luise Campos, Ralph Guichard e Guilherme Salgueiro; além dos repórteres de pista e da galera que acompanhará e informará sobre os desfiles na Intendente Magalhães. No meio de tudo isso, ainda tenho dois compromissos cívicos no sábado: a apoteose carioca do Bola Preta e o baile do Al-Farabi, que sacudirá a Rua do Rosário na parte da tarde. Bom Carnaval, vagabundagem do batente!