Thais Nascimento Dantas: O Carnaval que ninguém vê
É grande número de crianças trabalhando, mesmo com a proibição: no Brasil, trabalho só a partir de 16 anos
Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Por trás de trios elétricos e carros alegóricos que dominam o Carnaval, a exploração infantil cresce. É grande o número de crianças trabalhando, mesmo com a vedação ao trabalho infantil: no Brasil, trabalho só a partir de 16 anos.
Com o aumento das chances de lucro, famílias e crianças são levadas a trabalhar. E as atividades se concentram na venda ambulante e na coleta de recicláveis: duas das piores formas de trabalho infantil, segundo a OIT.
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Aumentam também os casos de violência sexual: no primeiro trimestre de 2015, houve 4.480 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, apenas no Disque 100. Dados do Ipea apontam a gravidade da situação: 70% dos casos de estupro são cometidos contra crianças e adolescentes, sendo 50% contra pessoas de até 13 anos.
Tanto o trabalho infantil como a violência sexual crescem no Carnaval motivados especialmente pela naturalização da violência: ocorrem abusos domésticos, foliões viajam guiados pelo turismo sexual e, no caso do trabalho, a imagem de uma criança vendendo bebidas ou catando latinhas é banalizada em meio à festa e à multidão brincando.
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Assim, é preciso conscientização, prevenção e fiscalização. O governo federal já lançou a campanha: “Não desvie o olhar. Fique atento. Denuncie. Proteja nossas crianças e adolescentes da violência”. Também os municípios devem criar estratégias locais. Por isso, o projeto Prioridade Absoluta do Instituto Alana enviou cartas às capitais cobrando ações nesse sentido.
A campanha parte da ideia de que a criança é responsabilidade de todos e qualquer violação a seus direitos deve ser combatida e não banalizada. E é o que garante o Artigo 227 da Constituição: a prioridade absoluta da criança.
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O foco da campanha é a conscientização e a importância do Disque 100, ouvidoria telefônica que recebe e encaminha denúncias aos órgãos responsáveis em 24 horas para a proteção à vítima. Portanto, em caso de violação, denuncie. A preocupação com crianças deve ser uma constante no planejamento estatal e também em nosso cotidiano, seja no Carnaval ou na Olimpíada que virá. Precisamos de estratégias efetivas de combate a violações de direitos da criança, para que a infância seja verdadeiramente a prioridade absoluta.
Thais Nascimento Dantas é advogada do Instituto Alana