Rio - Aposto que você, como eu, já não aguenta mais viver nesta cidade. Uma das mais caras do mundo e que não oferece, em contrapartida, mínimo de paz e segurança, quiçá Educação, Saúde e cultura. Sejamos sinceros: a violência estampada nas manchetes dos jornais não é caso isolado. Faz parte de nossa triste rotina que nos assusta, revolta, sensibiliza e que parece não ter fim. Os três últimos casos — a da turista argentina, do professor peruano e da enfermeira — são cruéis e inaceitáveis. Mas por aqui parece que tudo é “normal” e “aceitável”. Que tudo pode acontecer. Não, não pode. E não é normal. É incrível: não há sequer um pedido de desculpas por parte das autoridades, que não conseguem ter o controle nas mãos nem garantir direitos básicos.
Estamos totalmente desprotegidos. Não há a quem recorrer. Não há policiamento. Não há autoridade. Não há planejamento. Não há atenção. Não há mais bairros e ou horas perigosos. É uma insegurança generalizada que, talvez, para sobreviver, fingimos que não existe. Porque se pararmos para pensar, com certeza, vamos nos paralisar. E, me desculpem, não é a mídia que assombra ou pinta a cidade de terror. É a vida real. Depois de um dia de trabalho, chegar em casa é um milagre.
Sábado passado, às 11h, próximo da esquina da Avenida Paulo de Frontin com Haddock Lobo, fui assaltado. Dentro do carro, preso num enorme engarrafamento, sem um único policial em toda a avenida, fui abordado por dois ladrões, montados numa moto. Com uma arma apontada para minha cabeça, tive que entregar o que estava no campo de visão dos marginais, ouvindo repetidas vezes uma pergunta que ainda ecoa: “Quer morrer, tu quer morrer, cara?”.
Não sou mais um na estatística. Sei da necessidade e importância de registrar casos como este na delegacia. Mas para quê? Ano passado, vivi outro assalto. Quebraram o vidro do carro, em Botafogo, levando pertences. Naquela vez, me dirigi à delegacia. Resolveu? O que de fato a polícia faz ou pode fazer? Estamos entregues. E sinceramente não vejo nenhuma luz no fim do túnel, a não ser a nossa própria voz. Voz que precisa de um esforço sobre-humano para ecoar e transformar. E para acreditar que esta cidade ainda tem jeito.
Marcus Tavares é professor e jornalista