Por pierre

Uma sensação estranha perpassa o país dos extremos, onde uma facção da sociedade sente alívio pela saída de Dilma, enquanto outra tenta reagir à espoliação de que se considera vítima, com o impeachment da chamada “presidenta” — uma denominação infeliz.

Para quem se regozija pela saída de Dilma, razões para tal não faltam. Começando pelas pródigas benesses do Estado para fins escusos, medidas em bilhões, como se o dinheiro emanasse do Planalto, sem lembrar de que existe uma massa de gente ralando para criar riqueza, descontada em quase 40% do PIB.

Lembrar que não se trata apenas de cobrar os impostos clássicos, mais os descontos previstos em folha, e o “lucro” na venda de bens, em valores não corrigidos.

Tudo isso é pouco em relação ao que foi feito na gestão PT com o dinheiro arrecadado, com requintes de crueldade para com o povo, pelo alto nível de desvios (só dos fundos de pensão foram bloqueados R$ 8 bilhões).

Em decorrência do mau emprego do que entra, o mantra do governo é “não há recursos”, embora haja, e muito, mas sem chegar à população. É o caso das estatais, que não dão lucro porque, além de administradas por cupinchas nada habilitados para suas funções, são aparelhadas de maneira indecente, dividindo os prejuízos com a população.

De outro lado, o pessoal contra o impeachment encontra múltiplas razões para se indignar. Afinal, que conluio terrível, cheio de truques e chicanas sem-cerimônia para afastar o governo eleito com 54,5 milhões de votos. E quando se pensa que os artífices desse denominado golpe afrouxaram as penas adicionais previstas, com dó da Dilma, eis que estavam legislando em causa própria, de olho em possíveis condenações futuras que certamente atingirão muitos deles. Tudo com a bênção do presidente do Supremo, que estava ali apenas presidindo o Senado, portanto sem a missão de defender a Constituição, que acabou por descumprir.

Melhor juízo, ele só deve fazer quando mudar de edifício, após atravessar a Praça dos Três Poderes. E, para quem reconheceu um golpe no impeachment, o que esperar de um governo que, embora tenha escolhido bem os principais colaboradores, tem como especialidade pescar nas águas malcheirosas da política.

Roberto Muylaert é editor e jornalista

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