No Dia do Gari, uma homenagem aos profissionais que chegam a erguer 2 toneladas por dia
Por thiago.antunes
Rio - "É um, e é dois, e é três”. A dupla conta ritmadamente e lá se vai um saco de uns 50 quilos pelos ares para cair certeiro dentro da caçamba do caminhão.
A poucos quilômetros dali, uma vassoura quase mágica move-se 72 vezes por minuto nas mãos de uma morena toda maquiada, bem penteada, perfumada e repleta de predicados tão cultuados pelas mulheres.
Pegando pesado%3A de 8h às 15h20%2C os garis suspendem dezenas de sacos de lixo com mais de 50 quilos cadaSeverino Silva / Agência O Dia
Em outro ponto da cidade, um sujeito zero de gordura sustenta com os braços um equipamento de seis quilos e gira o corpo 180 graus, de um lado para o outro, para passar a máquina na grama. São anônimos que, dia após dia, faça chuva ou faça sol, estão nas ruas cuidando da cidade que hoje os homenageia, porque é o Dia do Gari.
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Preparo físico
O trabalho deles é duro e exige grande preparo físico. Sabe aquele caminhão que passa na rua para recolher o lixo das residências e dos estabelecimentos comeciais? Pois é.
Em média, cada agente da equipe suspende diariamente nada menos que duas toneladas de sacos de lixo para alimentar a caçamba trituradora, numa jornada que começa às 8h e termina às 15h20m.
Rosane e Renato Sorriso%3A alto astral para encarar batenteSeverino Silva / Agência O Dia
Guardando-se as devidas proporções, é como se os garis erguessem por dia 66,6 vezes um haltere de 30 quilos, em exercício denominado stiff, específico para o desenvolvimento dos músculos dos membros superiores.
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“O objetivo da academia é o exercício físico com planejamento. No caso desses profissionais, o conceito é conhecido como atividade física. A semelhança entre os dois é o gasto calórico e o esforço", explica o professor de educação física Raphael Farias, de 28 anos.
Mais de uma vassourada por segundo
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Rosane Cardoso da Silva, 38 anos, e o eterno símbolo da carioquice Renato Sorriso, 48, são garis de rua na Tijuca.
Mas Rosane é imbatível com suas 72 vassouradas a cada 60 segundos. Descansa cinco minutos por hora. Com jornada de sete horas, o total é de 27.720 vassouradas.
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“Ela trabalha os músculos das costas e dos braços. Podemos simular esse tipo de exercício no equipamento chamado remada sentada, colocando peso de cinco quilos, que é o mínimo”, explica o professor Raphael Farias, que usa o aparelho e faz 45 remadas num minuto. Grosso modo, é como se a gari desse 616 remadas por dia no aparelho.
Da grama à maratona
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Na Barra da Tijuca, o gari Daniel Gomes Duarte, 33 anos, trabalha como ceifador, o profissional da Comlurb que corta grama e capim com um equipamento que pesa seis quilos. Haja braço.
Daniel tem que manter a ferramenta suspensa, sem encostá-la no chão, fazendo a lâmina atingir apenas a grama.
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Para a ceifagem, ele movimenta o corpo de um lado para o outro, o que, de acordo com o professor de educação física Raphael Farias, corresponderia a exercícios de abdominal diagonal.
Daniel faz 60 movimentos por minuto. Portanto, a cada hora o gari gira 3.600 vezes para lá e para cá.
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Isso equivale a 60 abdominais diagonais por minuto. O professor arriscou e fez apenas 45 no mesmo espaço de tempo.
Daniel também treina para ser maratonista. “Isso ajuda a manter meu físico sarado”, ensina ele, que nem sabia que hoje se comemora o seu dia: o Dia do Gari.