Por raphael.perucci

Rio - Criar um fórum permanente, que reúna ONGs, associações de moradores de comunidades e o comando das UPPs. A ideia, lançada pelo coronel Robson Rodrigues da Silva, chefe do Estado-Maior da PM, foi a principal proposta que saiu do 5º debate da série ‘Rio, Cidade sem Fronteiras’, no Fallet, aos pés de Santa Teresa. O evento, organizado pelo DIA e ‘Meia Hora’, reuniu cerca de 50 pessoas quarta-feira e teve como tema ‘Liderança Pós-Pacificação — Novas Oportunidades’.

“Queremos empoderar estas lideranças. Proponho um Fórum com todas as comunidades pacificadas para a troca de experiências”, disse o coronel, que apareceu de surpresa no evento. A criação de uma federação unindo representantes de favelas também esteve na pauta, lançada por Flávio Mazzaro, o Fafá, presidente da associação do Fallet. Ele cobrou que a promessa não se perca com o tempo, já que o relacionamento entre UPP e a comunidade ainda não é dos melhores, como o próprio Robson admitiu.

Tássia%2C André%2C Flávio Mazzaro%2C Cel Róbson%2C Léo Dias%2C Júlio Ludemir e Charles Siqueira%3A três horas de debate e interação com a platéia Estefan Radovicz / Agência O Dia



“Faço mea-culpa pela instituição. A PM replicou aqui práticas de desigualdades e preconceito que não nascem na corporação. Precisamos voltar a aprender com a população”, disse Robson. Implantada em 2011, a UPP do Fallet teve seu comando inteiro retirado após denúncias de corrupção publicadas no DIA.

A proposta do fórum permanente permeou o debate. O escritor Julio Ludemir, criador da Batalha do Passinho, ressaltou o fato de o coronel ter-se sentado na platEia, apesar de sua patente, para dizer que acredita no processo de pacificação. “A democracia não existia nas favelas. O Estado de Direito está começando a chegar, mas de forma tímida.”

Dizendo que ser líder é ser vidraça, Charles Siqueira, do Galera.com (Prazeres), destacou que “candidatos a articulador social” têm de estar preparados para trabalharem sem apoio e até serem chamados de ladrão. Para ele, o inimigo da pacificação, hoje, não é o tráfico: “É a pobreza.”

Representante do Instituto de Estudos da Religião (Iser), a cientista social Tássia Mendonça acredita que está se criando uma nova maneira de liderar nas favelas, mas pediu respeito à memória dos que, durante décadas, conseguriam levar acesso mínimo aos serviços. “Não se pode apagar este passado.”

Na plateia, pelo fim da zona de conforto e um pacto da paz

A falta de mobilização das comunidades é a maior dificuldade enfrentada pelas associações de moradores. Na opinião de Zoraide Francisca Gomes, a Cris dos Prazeres, que há 17 anos trabalha no Grupo Proa (Prevenção Realizada com Amor), de prevenção a Doenças Sexualmente Transmissíveis e gravidez precoce no Morro dos Prazeres, a comunidade tem que ser despertada para trabalhar em rede. “Todos ficam na zona de conforto esperando pela iniciativa do outro”, diz Cris.

Criador do jornal ‘O Plantador’ e morador do Complexo do Alemão, recém pacificado, o ex-traficante André Luis Ramos propôs aos presentes um Pacto da Paz, com a participação de todas as lideranças comunitárias.

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