Rio - Sete pessoas numa mesa, a plateia e um desafio: debater como melhorar o relacionamento entre os policiais das Unidades de Polícia Pacificadora e os moradores das comunidades pacificadas. Cinco anos após a ocupação da favela pela Polícia Militar, dia 20 de novembro de 2008, o Santa Marta recebe hoje o oitavo debate da série ‘Rio, Cidade sem Fronteiras’, iniciativa dos jornais O DIA e Meia Hora.
O evento, que acontece na sede da agência NBS (Estação Dois do Plano Inclinado) e tem entrada franca a partir das 18h30, será aberto com a apresentação do grupo Soul Fox, dançarinos do projeto Hip Hop Atitude, da própria comunidade. Flávio Mazzzaro (Fallet), Charles Siqueira (Prazeres), Zé Mário (Santa Marta), Jorge Barbosa (Observatório de Favelas), Camilo Coelho, da NBS, e o coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs, estarão na mesa, mediados pelo jornalista André Balocco.
“O debate faz bem porque gera melhoria, fortalece a comunidade”, diz José Hilário dos Santos, o Zé Mário, líder da Associação de Moradores do Santa Marta. Para Charles Siqueira, coordenador do Instituto Pólen, que atua no Morro dos Prazeres, há muito o que comemorar, mas ainda é necessária uma profunda reflexão sobre o programa.
“A cidade e as comunidades têm muito mais a comemorar do que lamentar nestes cinco anos das UPPs. Para o futuro, há um universo de questões por evoluir, especialmente o apoio de verdade que o estado e o município ainda não deram à própria iniciativa que criaram”, fala Charles, acreditando que, no geral, o saldo é positivo, uma vez que as unidades abrem espaço para que serviços e projetos cheguem às comunidades. “Há uma abertura daqueles territórios a novas parcerias e articulações em prol do seu desenvolvimento e integração da população.”
Pedido por mais programas sociais
A certeza de que houve avanço, mas ainda insuficiente, também é compartilhada por Flávio Mazzaro, o Fafá, presidente da Associação de Moradores do Fallet, que esta semana recebeu evento de grupo canadense ligado à Unesco sobre empoderamento de lideranças. O Fallet era uma das comunidades mais violentas da cidade antes da sua UPP. A favela foi palco do quinto debate da série Rio Sem Fronteiras, em junho deste ano. “O grande mérito da UPP é a redução a quase zero da exposição a armas e drogas. Viver neste cenário na infância é pavoroso”, analisa Fafá, que comanda projeto social lá para mais de 200 crianças. Para ele, o estado está deixando de lado programas sociais que deveriam chegar com a PM.
Pedido de continuidade do programa
Uma das preocupações dos moradores de áreas pacificadas é quanto a uma possível descontinuidade do programa com a sucessão governamental. Em várias favelas, é comum ouvir que as UPPs são projetos com data marcada para terminar, o que o coronel Frederico Caldas nega veementemente. A PM tem, inclusive, cronograma de ações até 2018.
O temor dificulta a aproximação entre moradores e policiais. Thiago Firmino, um dos sócios do Lajão Cultural, na comunidade torce para que o projeto permaneça. “Espero que o programa fique, senão seria um tiro no pé. Mas que vire um projeto de favela, pois nem tudo é a polícia que resolve”, pondera o morador do Santa Marta. Camilo Coelho, um dos diretores da agência NBS, se disse honrado com a oportunidade de sediar o debate. ‘‘É preciso buscar o debate. Só assim se avança”, opinou.